Escrever carta naqueles anos de luta, de repressão e resistência, era uma arte que exigia muito cuidado. Malabarismos, autocensura, cautelas para não comprometer outras pessoas. Certas palavras chamavam a atenção dos censores que enviavam as cartas aos seus órgãos superiores. Essas leituras ocasionavam controle e prisões das pessoas citadas nas cartas.
Como exemplo de carta apreendida, apresentamos as cartas que Andrea Fávero e sua esposa Isabel enviaram desde o exílio naFrança para seus familiares. O casal foi preso em 1979 e submetido a torturas no então Primeiro Batalhão de Fronteiras de Foz do Iguaçu. Quem comandou as torturas foram capitão Júlio Cerdá Mendes e o então tenente Mário Expedito Ostrovski. Segundo Isabel “foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”.
Após sair da prisão o casal de professores seguiu pra o Chile e após o golpe que derrubou o governo da Unidade Popular, Isabel e Andrea foram para a Europa. É de lá que escrevem para seus pais, sem saber que suas cartas eram abertas e analisadas pelos órgãos de repressão.
Com o nome de Operação Gaivova (os milicos adoram essas coisas de operação disso e daquilo) passaram os “arapongas” a abrir as cartas. Muita gente foi presa tor ter sido nomeada.
As cartas de Andrea e Isabel são exemplo de como andavam os ânimos e experanças da colônia brasileira no exílio. (Fundo Aeronáutica Arq Nacional)
Documentos Revelados
Info 5907
Assunto: França Correspondência apreendida – Exilado Político
5907/32/AC/77
Difusão SC/
Fundo Aeronáutica AN
!
oi