Ontem, eu tive a grata surpresa de receber uma mensagem de uma jovem, que se identificou como Ana Clara Magalhães Teixeira.
Ana Clara, decobriu a história do avô, pesquisando o site documentos.revelados.com.br. ,que eu edito desde 2004.
Ela é filha da neném, que estava no ventre da esposa do topógrafo da Itaipu Paulo Jósé, quando ele foi preso em Foz do Iguaçu.
O caso, eu descobri durante minha pesquisa no Arquivo da Polícia Federal de Foz do Iguaçu.
A prisão do avô de Ana Clara , ocorreu em 1973. Paulo José Dias, era topógrafo e trabalhava para a Planta Engenharia S/A, consorciada da Matrix Engenharia S/A, empresa designada para fazer o cadastro de implantação do Canteiro de Obras da barragem de Itaipu.
Em 12 de dezembro de 1973,Paulo José e esposa mudaram-se de Muriaé, Minas Gerais, para Foz do Iguaçu. Como não conseguiram casa para alugar foram morar no Hotel da Porota, que era localizado na Rua Rio Branco.
Dois meses após terem chegado a Foz, a esposa resolveu voltar para Muriaé. Ela estava entrando no nono mês de gravidez e achou melhor ter a criança ao lado de seus pais, em sua cidade natal.
No dia 14 de fevereiro, logo depois de meio-dia, ela pegou uma Kombi e foi para o aeroporto.
Chovia muito naquele começo de tarde, o que tornava impraticável o trabalho de topografia. E já que estava parado, o topógrafo pediu à chefia autorização para ir ao aeroporto se despedir da esposa. Disse pro chefe que quando saiu, de madrugada, como todos os dias, a menina ainda estava dormindo.
Apesar de seus argumentos e da chuva, que não parava de cair, seu pedido foi negado. Inconformado com a intolerância da chefia ele passou o resto da tarde no alojamento com os colegas, pois o tempo chuvoso não era propício ao trabalho de campo.
No final do expediente, ainda revoltado, Paulo José foi tomar uns tragos no Bar Garfo de Ouro. Lá pelas tantas, deitou falação contra o militarismo e disse que era um absurdo em pleno século XX a humanidade resolver seus problemas na base da guerra. Um soldado do Batalhão não gostou e disse para o topógrafo que ele estava ofendendo o Exército Brasileiro. O militar tentou ainda prendê-lo, mas ele deu um safanão e conseguiu se safar.
Levantou de ressaca no dia seguinte e foi até o bar mais próximo para rebater o porre da véspera. Bebeu uma dose de rum e retornou ao hotel para tomar um banho. Ao chegar, um policial, que já o esperava, o levou para a delegacia de polícia onde foi rigorosamente interrogado. Queriam que ele confessasse que era comunista e membro de organização subversiva infiltrada na obra de Itaipu.
O topógrafo contou sua história. Falou da mulher grávida,a e da frustração por não ter ido ao aeroporto para se despedir dela. Da Polícia Civil foi conduzido para a Delegacia da Polícia Federal, onde dormiu, depois de nova qualificação e interrogatório. No dia seguinte foi levado para o então 1º Batalhão de Fronteiras, onde ficou três semanas no xadrez. Durante este período novos interrogatórios e ameaças de tortura.
Naquela época ainda havia no Batalhão um cubículo com diversos aparelhos de tortura. Os últimos presos supliciados na “sala de terror” foram os professores Luíz e Izabel Fávero. Ela estava grávida e abortou depois de uma sessão de choques elétricos.
Os militares estavam convencidos que Paulo José era um perigoso subversivo, membro de alguma célula comunista existente no Canteiro de Obras. Para tanto eles se escoravam em informações fornecidas pelo Centro de Informações do Exército- CIE, que davam conta que um colega do topógrafo na Usiminas havia sido preso como subversivo em 1964.
Outro dado também considerado importante pelos militares, era de que uma tia de Paulo José era casada com o tio do padre Geraldo da Cruz, preso em 1967 por ser membro de uma congregação religiosa “suspeita de subversão”.
Apesar de não terem nenhum motivo para manter o topógrafo preso, os militares o mantiveram no xadrez durante 22 dias. Por ultimo foi fichado como subversivo e demitido da Planta Engenharia S.A.
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