MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA
4ª ZA
QG 2ª SEÇÃO
ENCAMINHAMENTO 207/QG-4
6 JUNHO 69
ENCAMINHAMENTO RELATÓRIO DO DOPS/SP SOBRE AS PRISÕES DE MILITANTES DA ALA VERMELHA
O documento pode ser acessado clicando o link abaixo
http://pt.scribd.com/doc/110635127
DEPOIMENTO DE DERLY JOSÉ DE CARVALHO PARA MEMÓRIA SINDICAL
Meus irmãos foram presos em maio de 1968
Nessa época meus irmãos saíram e montaram o MRT. Eles saíram da Ala Vermelha, montaram o grupo e acabaram sendo presos porque abriram a guarda.
Carol – Eles foram para a Argentina?
Derly– Não. Eles foram presos em maio de 1968. Em conseqüência, um grupo da Ala Vermelha e eu fomos presos. Foram Daniel, Joel e Jairo presos. Devanir conseguiu se livrar. E foram presos mais alguns companheiros do ABC, o Coqueiro. Eles descobriram onde ficava a casa de meus pais.
Carol – Seus irmãos eram do PCdoB também?
Derly– Também.
Carol – E também foram para a Ala Vermelha? Fizeram a mesma trajetória que você?
Derly– Exatamente. Eles foram para o PCdoB antes que eu. E quando voltei, eles estavam na Ala Vermelha. Porque já era uma discussão que nós fazíamos com os quadros intermediários do partido. Queríamos ir ao congresso para no congresso nós mudarmos esse conceito de relacionamento dentro do PCdoB.
Então, eles foram presos e o que acontece? A repressão tomou conta da casa e a polícia invadiu a casa dos meus pais e a casa do meu sogro.
Nessa época eu morava em Rio Bonito. Nessas condições, nós mudamos para um local onde havia uma feira em que meu cunhado, irmão da minha mulher, trabalhava. De repente, ela foi à feira e os encontra em frente à casa. A barraca deles estava em frente a nossa casa. Uma semana depois ocuparam a casa e prenderam todos os meus cunhados, colocaram todos eles em pau-de-arara. E acabaram descobrindo onde eu morava e fui preso em função disso. Devanir conseguiu sair.
Quando fui preso foi uma barra muito pesada
Carol – Você ficou muito tempo preso?
Derly– Fiquei dois anos, depois fui trocado pelo embaixador da Suíça. Quando fui preso foi uma barra muito pesada porque tinha alguns dados que eles não tinham sobre mim. Eu fiquei 90 dias completamente incomunicável, minha mulher e ninguém sabiam onde eu estava. Passei quase noventa dias sem conseguir levantar do chão e sentar numa cadeira. Fui duas vezes para fazer massagem cardíaca no hospital das clínicas. Fiquei preso de maio de 1969 a Janeiro 1971. E fui deportado para o Chile em 13 de janeiro de 1971.
Carol – Foi torturado?
Derly–Isto (aponta para marca na testa) foi tortura. Nós tínhamos acabado de ocupar a Rádio Nacional. Eu estava em minha casa e toda a preparação de ocupação da rádio e da TV bandeirantes, no jogo Brasil e Inglaterra, estava pronta. Nós íamos fazer isso uma semana depois. Caiu tudo isso em minha casa. Caiu uma oficina com fábrica de armas etc. Morreu uma pessoa da equipe do Sergio Paranhos. Tivemos certeza absoluta de que ele morreu dentro da minha casa. E eu já estava preso, no pau-de-arara. Nessa hora eles queriam saber quem tinha ido a minha casa.
Eu tinha reunião, mas não fui então o pessoal foi até minha casa e quando chegaram eles estavam lá. E como o pessoal já estava preparado houve um enfrentamento, quando morreram um ou outro. Com isso, eles não me executaram naquele momento porque a CIA queria falar comigo. A CIA que me defendeu nesse momento. A CIA estava lá em volta a todo momento. E ela não deixou que me apagassem porque queria falar comigo sobre a questão da China. Porque eu era a única pessoa que estava presa dos grupos, do pessoal do PCdoB que foi à China e à Albânia.
Quando eles tiveram a chance de falar comigo meu nome já estava na lista do sequestro, para ser trocado pelo embaixador sequestrado. Eu fui levado para a Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, até o dia da viagem.
Carol – Seus irmãos morreram na prisão?
Derly– Não. Devanir morreu em combate em São Paulo. Na época eles estavam fazendo um trabalho com Lamarca, da VPR. Nessa época já tinham morrido Toledo, Marighela e Lamarca. Meu irmão Devanir morreu acho que no dia 5 de abril de 1971. Eu estava na China novamente. Depois fui para o Chile, e no Chile os chineses me pediram para organizar um grupo, uma delegação, para ir para lá explicar o que estava acontecendo no Brasil.
http://www.memoriasindical.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=533&friurl=%3A-Depoimento-de-Derly-Jose-de-Carvalho—parte-2-%3A#.UIKjDWdp61t
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