A Ação Popular é um dos desdobramentos do processso iniciado dentro da JUC nos anos de 1959/60, durante os quais, tomando consciência dos problemas brasileiros, lançou-se às lutas políticas e ideológicas. Apesar de não ser muito forte em número de militantes, a JUC era, assim como o Partido Comunista, a força estudantil melhor organizada. Em 1959, sem abandonar completamente o interesse pelos problemas políticos, desenvolvera uma atividade de caráter mais acentuadamente religioso e interno. A partir daquele ano, voltou-se de preferência para o político e o social. Em 1960, alguns de seus militantes chegaram à presidência e outros cargos de direção da União Nacional dos Estudantes (UNE). A partir de então, formou-se uma aliança com as forças de esquerda, inclusive o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que passou a predominar na política estudantil.
Aquela aliança e a política extremista que, a partir de 1960, a UNE começou a desenvolver provocaram uma violenta reação dentro e fora do meio universitário. A JUC passou então a ser denunciada como uma simples “Organização de fachada” do comunismo universitário brasileiro. À vista disso, o Episcopado viu-se na obrigação de intervir, proibindo aos jucistas ocuparem cargos de responsabilidade dentro das organizações políticas universitárias.
Em virtude dessa proibição, os elementos mais politizados e influentes da JUC tomaram a deliberação de fundar um movimento novo, de caráter político-ideológico e, em 1962, nasce a Ação Popular (AP), que incluiu também militantes da JEC, refletindo o fortalecimento da esquerda católica dentro do movimento estudantil.
No início, defendia uma ideologia própria, buscando diferenciá-la do marxismo, o que não a impedia de assumir-se como um movimento revolucionário que pretende formar quadros para participar de uma transformação radical da estrutura em sua passagem do capitalismo para o socialismo.
A AP manteve a hegemonia no movimento estudantil, elegendo todos os Presidentes da UNE, até pelo menos o golpe militar de 1964. Sofreu também influência da revolução chinesa após a volta de quadros seus da China, com a implantação de uma linha de proletarização; essa linha defendia que a Organização só poderia se fortalecer na prática. Iniciou então o processo de colocação dos militantes nas fábricas e em estreita ligação com os camponeses, ao mesmo tempo em que assumiu os elementos essenciais da estratégia maoísta; priorização do trabalho junto ao campesinato e a necessidade de preparar a guerra popular prolongada, tendo nas regiões rurais o seu cenário fundamental.
Essa nova posição adotada pela Organização provocou conflitos internos que culminaram, em princípio de 1969, na formação de um grupo dissidente: o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT). Mas a linha maoísta que prosseguiu com a denominação de AP estava longe da homogeneidade. Sua luta interna se acirra e atinge todas as regiões do País, bases e direções.
Em 1972, ocorreu o “racha”, formando-se duas facções que reivindicavam, ao mesmo tempo, o nome de Ação Popular: um grupo mais próximo ao PCdoB, que acabaria se incorporando a ele; e um outro que constituiu a Ação Popular Marxista-Leninista (APML).
Consumada a divisão, a APML iniciou um processo de balanço político da intensa crise vivida, o qual foi interrompido pela ação do aparelho repressivo. Entre 1972 e 1974, vários dirigentes são presos, mortos ou desaparecem.
Duramente golpeada, vivendo ainda os efeitos de uma profunda crise político-ideológica, a APML começa lentamente sua marcha em direção a uma profunda revisão política. Hoje, não constitui uma organização formada. Seus antigos militantes estão, em grande parte, no Partido dos Trabalhadores (PT).
Hist. Arquivística/ Procedência: os documentos foram adquiridos através de doações de Frei Romeu Dale, entre 1988 e 1989