Imprensa

Coojornal, um jornal de jornalistas contra a ditadura

 

Após o golpe de 1964, o Brasil passou a vivenciar um dos mais tenebrosos regimes autoritários da história e uma das áreas mais atingidas pelo autoritarismo instalado no país foram os veículos de comunicação. Foi sob a censura que se expandiu o chamado jornalismo alternativo. Jornalistas, intelectuais e políticos da oposição se juntavam para criticar o abuso de poder dos militares.

O primeiro jornal com este caráter foi o Pif-Paf, criado por Millôr Fernandes em maio de 64. Depois surgiram Folha da Semana, de Arthur Poener; Bondinho, de Sérgio de Souza; O Sol, fundado por Reynaldo Jardim; e O Pasquim, do célebre Jaguar, entre muitos outros.

Durante a década de 70 esses jornais eram conhecidos como “imprensa nanica”, termo que, segundo Bernardo Kucinski (1998, p. 178) devia-se ao seu formato pequeno, tablóide. Mas Sérgio Caparelli questiona o termo: “Como chamar nanico o Pasquim (…) que chegou a tiragens de 100 mil exemplares?” (1980, p. 42).

A palavra “alternativa” foi usada no Brasil por Alberto Dines, na sua coluna semanal do jornal Folha de São Paulo. O termo já era usado nos Estados Unidos e Inglaterra para designar arte e cultura não convencionais.

Segundo Caparelli, “alternativo” é o termo mais apropriado para o gênero porque “(…) indica uma relação com outro, um alter que chama a si os que se desviam de um caminho inicial, no caso, a imprensa tradicional”. (1980, p. 44).

Foi exatamente assim que surgiram diversos jornais oposicionistas ao governo, com o descontentamento dos profissionais de comunicação com a grande mídia, que se deixava manipular pelo poder. Em resposta a um questionário aplicado em 1979 (CAPARELLI, 1980, p. 44), o jornal Opinião explica que o objetivo do veículo é comentar acontecimentos sócio-econômicos e políticos do país, que os jornais consagrados não comentam, ou, quando o fazem, obedecem à ideologia dominante.

Numa pesquisa realizada no mesmo ano, Jaguar, fundador do O Pasquim (maior jornal alternativo da época) afirma que o principal motivo do jornal ter sido criado é porque assim seriam donos de seus próprios narizes, ou melhor, das matérias, sem ter que dar satisfação aos patrões.

A imprensa alternativa tinha como principais objetivos criticar o modelo econômico e político dos governos, combater político-ideologicamente a ditadura, lutar por mudanças estruturais, criticar o capitalismo e o imperialismo e criar um espaço público alternativo, virtual, afetivo e contra-hegemônico.

Segundo Bernardo Kucinski (1998), os jornais oposicionistas eram divididos em duas classes: alguns predominantemente políticos e de outro lado, jornalistas cansados do discurso ideológico. A primeira classe era formada por jornais como Politika, Opinião, Movimento, Em Tempo e Coojornal. “(…) tinham raízes nos ideais de valorização do nacional e do popular dos anos 50, ou no marxismo vulgarizado nos meios estudantis nos anos 60. Em geral pedagógicos e dogmáticos (…)”. (1998, p.180).

Estes jornais foram os únicos da imprensa a perceber os perigos do crescente endividamento externo e revelaram novos personagens, como os bóias-frias, por exemplo.

Já o segundo grupo era formado pelos jornais Versus, Bondinho, Ex e O Pasquim. Eles se inspiravam nos movimentos de contracultura norte-americana, no orientalismo, anarquismo, existencialismo, eram contra o autoritarismo e a moral da burguesia e aderiam às drogas.

Com 15 anos de ditadura militar, surgiram aproximadamente 160 periódicos de vários tipos – satíricos políticos, feministas, ecológicos e culturais. Mas a maioria não conseguia passar de duas ou três edições e fechava as portas. “Ainda assim, foram quase todos embriões de futuras equipes que tiveram grande importância no jornalismo”. (KUCINSKI, 1998, p. 192).

Poderíamos classificar o período de circulação dos principais jornais alternativos em quatro fases. A primeira foi quando o objetivo era revolucionar o país. Depois que a censura começou a persegui-los, reformularam a linguagem e a forma de criticar, resistindo ao poder. No final dos anos 70, com a abertura política, as redações dos jornais alternativos foram deixando a clandestinidade e ganhando o espaço público. Na fase final os jornais se voltavam aos movimentos populares de base.

Em meados de 1974 a imprensa alternativa passou a viver um conflito interno (KUCINSKI, 1998, p. 184). Ela lutava pela democracia, mas alguns jornais se tornaram frentes de partidos políticos, seguindo duas concepções: a Gramsciana e a Leninista. Na primeira, os jornalistas se inspiraram na obra de Gramsci, de 1968, intitulada de “Os intelectuais e a organização da cultura”, fazendo dos jornais entidades autônomas com o propósito de contribuir para a formação de uma consciência crítica nacional. Dentre suas características estavam: montar um conselho editorial; ampliar a base de sustentação dos jornais; identificá-los com correntes expressivas de opinião e receber dinheiro e matérias escritas por jornalistas que continuavam trabalhando na imprensa convencional e por artistas que organizavam shows para conseguir recursos.

O Coojornal, do Rio Grande do Sul, foi à única cooperativa importante de jornalistas a explorar a fundo e de forma consciente o ideal cooperativo.

http://www.libretos.com.br/images/stories/publicacoes/coojornal/Coojornal__Um_jornal_de_jornalistas_sob_o_regime_militar.html

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