DONA ENCARNAÇÃO RECUSOU DAR OURO PARA O BEM DO BRASIL
Dona Encarnação era uma brava senhora e uma senhora brava. Estava viúva há anos. Administrava sua pensão da qual extraia o sustento para educar uma penca de netos na rua Rio de Janeiro, centro de Poços de Caldas. Seu carregado sotaque lusitano não passava desapercebido, embora vivesse no Brasil desde menina. Falava bastante e não tinha papas na língua. Seu linguajar era reputado na cidade como picante e direto. Como de costume, dona Encarnação se dava uns momentos de folga à porta da pensão após servir refeições avulsas a moradores e clientes. Ficava ali parada apoiada na vassoura, ainda com o avental e cabelos envoltos em um lenço. Um distinto senhor que por ali passava lhe fez uma proposta: se ela não queria ir até a praça central da cidade para doar sua aliança de ouro “para o bem do Brasil”. Dona Encarnação ficou indignada. Julgou o pedido ultrajante. Com a verve que lhe era costumeira respondeu na lata: “esta aliança custou o meu cabaço! Se o Castelo Branco quer ouro para o bem do Brasil, ele que vá dar o rabo pra ver o quanto dói”.( Tomas Togni)
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