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Garimpando o arquivo da Polícia Federal de Foz do Iguaçu

Um mês após o Ministério da Justiça abrir os arquivos da Polícia Federal, relativos à época do regime militar, eu fui credenciado pela Comissão 9140, dos mortos e desaparecidos políticos, para pesquisar a papelada existente na Delegacia de Foz do Iguaçu.

Durante quase dois meses vasculhei os mandados de prisão, informes, radiogramas, ofícios recebidos e expedidos, dossiês, relatórios e outros tipos de documentos produzidos pela burocracia policial.

Reconheço que esta busca é tardia, pois no Brasil, ao contrário do Chile, Argentina e até do Paraguai, os arquivo da repressão estão sendo abertos fora do tempo apropriado. A nossa Lei da Anistia, além de ter permitido a devolução dos direitos civis e políticos aos perseguidos pela ditadura, serviu também ao propósito do esquecimento do passado. Esta dubiedade reside no fato de que enquanto as vítimas precisam remexer nos arquivos para que histórias sejam  reconstruídas, os algozes e seus cúmplices fazem de tudo para que o passado permaneça intacto e possam, assim, terminar em paz os seus dias. Estão normalmente dispostos a pagar a intocabilidade do passado, com o seu próprio esquecimento pela História.

O filme alemão “Cidade sem passado“, coloca muito bem esse mecanismo. Nele as pessoas que foram ou colaboraram com os nazistas desejam que o passado continue intocado, e para isso dificultam o trabalho de uma estudante que recebeu a tarefa de escrever uma redação sobre sua cidade durante a Segunda Guerra. Diante do silêncio de seus conterrâneos, a jovem recorreu ao arquivo público da cidade e descobriu como foi o comportamento das pessoas durante o regime nazista.

Durante minha pesquisa no arquivo da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu eu me senti como a personagem desse clássico do cinema “cult”.

Ao esmiuçar os quase vinte mil documentos, buscando pistas que indicassem as circunstâncias das mortes dos desaparecidos políticos e a localização dos seus restos mortais, eu tive acesso a um conjunto de documentos que traçam a história do oeste e sudoeste do Paraná e em particular de Foz do Iguaçu nos últimos trinta anos. São reclamações, investigações e inquéritos sobre as “guerras camponesas” de defesa contra os despejos executados por jagunços a soldo de latifundiários. Além dos documentos sobre as organizações de esquerda e dos conflitos pela terra,  o arquivo da Polícia Federal é farto em documentos sobre questões locais. Essas vão desde as fofocas políticas, controle do movimento estudantil e relatórios de dedos-duros até uma ou outra articulação do movimento estudantil.

Descobri também um fato acontecido em outubro de 1975 e abafado pela cúpula da Itaipu. Trata-se de uma greve de fome ocorrida no canteiro de obras e que só terminou depois

São histórias de prisões, de resistências, de dedos-duros, biltres e lambe-botas. Por enquanto vou relatar alguns casos de prisões pitorescas e de resistências. O resto fica pra depois.

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