Em Vitória de Santo Antão (Pernambuco), camponeses e ex-militantes comunistas criam, no engenho Galileia, a Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP), como forma de reagir às tentativas de expulsão dos foreiros e arrendatários das terras em que trabalhavam.
A entidade se propunha a formar um fundo para dar assistência médica e jurídica aos camponeses e a criar uma escola primária na região. Aos poucos, todavia, ampliaria sua atuação e ganharia as ruas.
Em 4 de maio daquele ano, a entidade promoveria a Marcha da Fome, reunindo centenas de trabalhadores rurais para denunciar ao governador a situação de miséria e violência em que viviam. Sob a liderança do advogado Francisco Julião, realizaria ainda o 1º Congresso de Lavradores, Trabalhadores Agrícolas e Pescadores, com a presença de seis mil pessoas.
A mobilização em torno da desapropriação do engenho Galileia seria o batismo de fogo da SAPPP e das Ligas Camponesas — nome emprestado das ligas formadas pelo PCB na década de 1940 — que dela se originaram.
No ano seguinte, as terras reivindicadas pelos camponeses seriam desapropriadas e distribuídas entre as 104 famílias que lá viviam. Durante a votação da lei, a Assembleia Legislativa foi cercada por três mil camponeses empunhando foices, facões e enxadas — seus instrumentos de trabalho.
A vitória em Pernambuco estenderia para outros estados as Ligas Camponesas, que no final dos anos 1950 somariam 70 mil associados em todo o Nordeste, metade deles em Pernambuco. Seria também o ponto de inflexão do movimento.
Até então, as ligas atuavam sobretudo no âmbito jurídico. A partir de 1960, especialmente depois de sua visita a Cuba — onde conheceu de perto a ampla reforma agrária realizada na ilha —, Julião passaria a defender um projeto nacional de reforma agrária radical, “na lei ou na marra”, e se colocaria como oposição à esquerda do governo Goulart, criticando o caráter moderado das Reformas de Base.
Depois do golpe de 1964, Julião teria de viver no exílio.
Texto: Memorial da Democracia