Fundada em 1974, na Argentina, e relançada posteriormente no México (1976), em Portugal e África (1978) e também no Brasil (1980), a revista Cadernos do Terceiro Mundo desenvolveu mais de trinta anos de intensa atividade jornalística, cobrindo a temática internacional a partir da ótica de cientistas políticos, jornalistas e lideranças dos países do Sul. O ineditismo de sua proposta editorial e a abrangência de sua cobertura fez com que ela se tornasse referência obrigatória, por décadas, para estudos políticos, históricos e de relações internacionais nos meios acadêmicos do então chamado Terceiro Mundo e nos movimentos sociais, sindicatos, organizações não governamentais humanitárias, grupos de direitos humanos, ecologistas e foros internacionais de diversa índole. Seus jornalistas entrevistaram lideranças do porte de Nelson Mandela, Fidel Castro, Rigoberta Menchú, Omar Torrijos, Velasco Alvarado, Yasser Arafat, Muammar Khadafi, Saddam Hussein, Samora Machel, Agostinho Neto, Julius Nyerere, Sean MacBride, entre outros. Por ter circulado em espanhol, português e inglês na América Latina, África, Oriente Médio e parte da Ásia, ela desempenhou um papel sui generis de promotora do diálogo Sul-Sul.
A revista Cadernos do Terceiro Mundo nasceu como consequência direta do exílio de milhares de lideranças políticas e sindicais, de profissionais liberais, jornalistas, estudantes e militantes de variadas ideologias e origens, provocado pelo ciclo das ditaduras latinoamericanas das décadas de 60, 70 e 80 do século XX. Mas também é herdeira da experiência acumulada pelo Movimento dos Países Não Alinhados, que nos anos 1970 e, muito particularmente, a partir dos debates da IV Reunião de Cúpula, realizada em Argel em 1973, lançou duas ideias de enorme impacto e de extraordinário significado: a necessidade de implementar uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI) e uma Nova Ordem Informativa Internacional (NOII).
Em 1974, seus editores tiveram que sair da Argentina, por conta do golpe de Estado que já se desenhava naquele país e as ameaças da Tríplice A. Neiva Moreira e Beatriz Bissio foram para o Peru, e, posteriormente, para o México onde a revista foi relançada e ampliou a equipe de colaboradores, a tiragem e a circulação, lançando duas novas edições, a primeira em inglês, em 1977, fundamentalmente para o público dos Estados Unidos – mas também para chegar aos leitores da África, do Oriente Médio e da Ásia, através de assinaturas – e, mais tarde, em 1978, a segunda, em português, com sede em Lisboa, para atender preferencialmente o público das jovens nações africanas de língua portuguesa. Esse foi o momento áureo da revista: circulava em três línguas e atingia um público de quatro continentes, América (de norte a sul), Europa, África e Ásia, seja através de distribuição comercial, em bancas e livrarias, seja através de assinaturas (a maior parte do público em língua inglesa).
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