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Ahu, uma prisão política

Durante a ditadura militar, centenas de resistentes estiveram presos no Ahú. Sobre meus dias no cárcere curitibano, o escritor e jornalista gaúcho, Políbio Braga, escreveu em seu livro “Ahú, Diários de Uma Prisão Política”.
“2 de agosto de 1969- Sábado – Aluizio foi levado nesta noite pela guarda. Ficamos olhando para a escolta, esperando escutar, como ele, uma explicação. Estou aqui só há três dias. Para mim, a situação pessoal do Aluízio ainda não me atingiu, mas noto que os demais presos tem por ele um misto de admiração e preocupação. O temor de todos é ele voltar pra tortura e ser morto. — É visita? – A pergunta de Aluízio para um dos guardas soa falsa. Ele sabe do que se trata. A esta hora – são 20h30 – só entra no Ahú quem não vai sair. – (…) – Aluízio deu meia volta no calcanhar, foi até o banheiro dos fundos da cela, urinou precavido e voltou de cara amarrada. – Vamos embora.- (…) – Ainda é em Aluízio que estou pensando. Ele tem apenas 24 anos. É carioca. Fala muito pouco e os seus olhos claros movem com aparente surpresa e sem direção certa, mas ao mesmo tempo são determinados – os olhos de Antonio Conselheiro ou de qualquer outro tipo de fanático. – Este homem tem sido o prato do dia entre os outros presos. Quando foi preso, aqui no Paraná mesmo, há poucas semanas, tripulava um jipe roubado e carregado de armas. “Farto material bélico”, estava escrito no jornal. Aluízio jurou sem convencer ninguém, que eram apenas dois revolveres 38 e uma espingarda de caça. – 4 de agosto de 1969 – Segunda-feira – Aluizio ainda não voltou. Meu advogado chamou-me esta manhã. Ele também defende Aluízio, foi o que lhe respondi. O que ouvi transmiti depois na cela: – A prisão de Aluízio no Paraná foi um acidente político. Ele está sendo levado para o Rio. Agora é que ele vai sofrer pra valer, os agentes do Cenimar vão tentar arrancar dele os nomes verdadeiros dos nomes de guerra que ele escreveu em um diário. – 07 de agosto de 1969 – Quinta-feira – Ao cair da noite trouxeram Aluízio. Os 21 prisioneiros da nossa cela cercaram o preso para saber como é que tinha sido seu calvário. Apanhara um bocado sim, mas estava inteiro. O Cenimar conduzira-o até Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai, para que ele indicasse a localização das armas que escondera. “Que armas”, respondeu Aluízio para todos nós, repetindo a frase no tom do que dissera aos homens da Marinha. Não havia armas e, se houvesse, Aluízio jamais abriria a informação. Era só olhar para o seu jeito determinado ” .

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