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Comissão Pastoral da Terra e a luta dos desapropriados em 1980

O arquivo apresenta dois documentos distintos. O primeiro, edição de 18 a 25 de julho 1980 do Hoje-Foz intitulado “Colonos pressionam Itaipu “Praça de guerra” em Santa Helena” e outro da Comissão pastoral da terra (CPT) – regional centro-sul de Goiás regional de Minas Gerais.

Edição de 18 a 25 de julho 1980 do Hoje-Foz

Os dois textos presentes neste documento, relatam que, a partir do dia 13 e 14 de julho de 1980, Santa Helena, no Paraná, foi palco de um grande protesto. Cerca de 400 agricultores, cujas terras foram desapropriadas pela Itaipu Binacional para a construção do reservatório da hidrelétrica, bloquearam o escritório da empresa com tratores e caminhões, reivindicando indenizações justas e reassentamento em terras no estado. A mobilização, organizada pela Comissão de Agricultores com o apoio do Sindicato Rural e da Comissão Pastoral da Terra, rapidamente ganhou força, atraindo agricultores de outras cidades, como Marechal Cândido Rondon, Itacorá, Missal e Guaíra, somando aproximadamente 1.500 participantes.

Os manifestantes apresentaram a “Carta de Santa Helena”, pedindo reajuste de 100% nas indenizações, pagamento rápido e reassentamento em terras no Paraná. A Itaipu, representada por seu diretor jurídico, negou o reajuste imediato, explicando que o valor médio oferecido por alqueire era de 140 mil cruzeiros, mas os agricultores contestaram, dizendo que os preços das terras eram muito mais altos.

Apesar das negociações, o impasse continuou, com a empresa oferecendo ajustes a cada 120 dias e pagamento das indenizações em até 15 dias após a documentação. O protesto foi pacífico, e os agricultores permaneceram no local enquanto as reivindicações eram levadas à direção da Itaipu.

Esse impasse evidencia uma dinâmica de poder desigual, onde a luta por justiça se torna um exercício de resistência contra um sistema que favorece o lucro em detrimento da dignidade humana.

O documento ainda apresenta charges ironizando o descaso da Itaipú com os agricultores que tiveram suas terras desapropriadas pela empresa.

CPT itaipu 1 (1)Comissão pastoral da terra (CPT) regional centro-sul de Goiás regional de Minas Gerais

O documento trata da desapropriação de 60 milhões de hectares de terra no Sul de Goiás e no Triângulo Mineiro, que o governo brasileiro ofereceu a empresas japonesas e investidores locais, sob a justificativa de promover o progresso. A área, abrangendo aproximadamente 500 mil quilômetros quadrados, envolvia partes de Goiás e Minas Gerais. Entre os responsáveis pelo projeto estavam empresas como Toshiba e Komatsu, com o apoio do Banco Central do Brasil e da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA).

O governo alegava que essa iniciativa traria desenvolvimento e benefícios para a população local, mas muitos acreditavam que, na prática, resultaria na expulsão e empobrecimento dos moradores da região, favorecendo apenas grandes investidores. Para o início do projeto, estava previsto um investimento de 223 milhões de cruzeiros, que já estaria sendo utilizado para a desapropriação de terras.

A Comissão Pastoral da Terra denunciou essa opressão e convocou trabalhadores e cidadãos a se organizarem e debaterem sobre a questão, promovendo uma resposta coletiva contra a injustiça social. O debate deveria incluir os impactos sociais e econômicos do projeto, alternativas para o uso da terra e estratégias para garantir os direitos dos trabalhadores rurais.

A narrativa oficial de desenvolvimento e progresso escondeu as verdadeiras intenções: enriquecer investidores enquanto os moradores são empurrados para a marginalização. Essa situação expõe a fragilidade dos direitos fundiários no Brasil e a manipulação do discurso político em favor de elites econômicas.

O documento também apresenta charges ironizando a situação da oferta de terras para empresas japonesas.

 

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