Plínio Angeli era um desses comunistas das antigas. Disciplinado, estudioso e fiel aos princípios do marxismo-leninismo. Após a saída de Luiz Carlos Prestes do PCB, Plínio, assim como outros militantes, ficou um bom tempo com um pé no PDT e outro no Partidão, mas não seguiu as orientações emanadas pelo grupo de Giocondo Dias. Ele costumava dizer que de revisionismo em revisionimo, os medalhões iam acabar engrossando o caldo da direita brasileira.
E não deu outra, o grupo revisionista saiu do PCB e fundou o PPS, que hoje é linha auxiliar dos partidos de direita.
Nas minhas idas à Santa Helena, cidade da região Oeste do Paraná, eu não deixava de visitar o Plínio Angeli, no velho casarão de madeira. Sujeito tranqüilo e bonachão, o Plínio não dispensava o chimarrão nos finais de tarde. E nessas rodadas a gente conversava sobre os rumos que a luta seguiria após a anistia. Naquele início da década de 80, Santa Helena revivia seus dias agitados. Se antes a agitação no campo corria por conta dos embates entre jagunços e posseiros, agora era a movimentação dos colonos na luta por preço justo para suas propriedades prestes a serem desapropriadas por Itaipu.
Como não podia ser diferente Plínio Angeli, estava engajado em duas frentes, uma junto aos colonos e outra na luta em defesa de eleição para prefeito em Santa Helena, município considerado “área de segurança nacional”.
E naquelas tardes de chimarrão na varanda ampla, ele, que trabalhava na Câmara Municipal me revelou os apertos que teve nos “anos brabos”. “Quase perdi o emprego”, me contou, enquanto despejava água quente na cuia, que segundo ele veio com a família desde o norte do Rio Grande do Sul. “Eu era fichado e ainda irmão de guerrilheiro”, referiu-se ao José Angeli Sobrinho, jornalista, escritor e ex-militante da VPR.
Nos documentos anexados, o Delegado de Polícia de Santa Helena, pede ao famoso torturador Ozias Algauer, chefe do DOPS, informações sobre Plínio Angeli, dizendo-se preocupado com “as doutrinações que o mesmo vem fazendo aos vereadores”.
Ofício 50/78
31MAIO1978
Do Delegado Carlos Alberto Gonçalves Magno ao Chefe da Divisão de Segurança e Informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública, delegado Ozias Algauer
OFICIO 043 S2
1º BATALHÃO DE FRONTEIRAS
Do Coronel Jecy Serôa da Mata
Ao Prefeito de Santa Helena
Assunto: Plínio Walquir Angeli
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