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GRAVAÇÕES EM FITA DA RÁDIO LIBERTADORA, CRIADA POR CARLOS MARIGHELLA, QUE OPEROU NA CLANDESTINIDADE

Clique no link para ouvir a Radio Libertadora

http://youtu.be/pHxgJ1dswMU

A Rádio Libertadora foi um projeto criado por Carlos Marighella em 1969 com o objetivo de difundir a mensagem revolucionária para rádios e auto-falantes quando a censura da ditadura militar bloqueava as noticias dos grupos de resistência. As gravações em fita da Rádio Libertadora foram reunidas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que reconheceu Marighella como anistiado e lhe prestou as homenagens, pelo centenário de seu nascimento (5/12/2011), com a publicação do livro “Rádio Libertadora – A palavra de Carlos Marighella” com as transcrições das gravações.

GRAVAÇÕES EM FITA DA RÁDIO LIBERTADORA

Atenção!

Está no ar a rádio libertadora!

Atenção!

Está no ar a rádio libertadora!

De qualquer parte do Brasil, para os patriotas de toda a parte.

Rádio clandestina da Revolução.

O dever de todo revolucionário é fazer a Revolução!

Abaixo a ditadura militar!

Atenção!

As gravações em fita das transmissoões em fita da Rádio Libertadora, podem ser ligadas aos sistemas de alto-falantes dos bairros e subúrbios e irradiadas para o povo, mesmo que para isto tenhamos que empregar a mão armada.

[MARIGHELA FALA]:

Ao Povo brasileiro!

Da cidade da guerra revolucionária, nela estamos empenhados com todas as nossas forças no Brasil. A polícia nos acusa de terroristas e assaltantes mas, não somos outra coisa que não revolucionários que lutam a mão-armada contra a atual ditadura militar brasileira e o imperialismo norte-americano.

Nossos objetivos são os seguintes:

  • Derrubar a ditadura militar;
  • Anular todos os seus atos desde 1964;
  • Formar um governo revolucionário do povo;
  • Expulsar do país os norte-americanas, expropriar firmas, bens e propriedades deles e de quem com eles colaboram;
  • Expropriar os latifundiários;
  • Acabar com o latifúndio;
  • Transformar e melhorar as condições de vida dos operários, dos camponeses e das classes médias;
  • Extinguir, ao mesmo tempo e definitivamente, a política de aumento dos impostos, dos preços e aluguéis;
  • Acabar com a censura;
  • Instituir a liberdade de imprensa, de crítica e de organização;
  • Retirar o Brasil da condição de satélite da política externa dos Estados Unidos e colocá-lo no plano mundial como uma nação independente;
  • Reatar ao mesmo tempo relações diplomáticas com Cuba e todos os demais países socialistas;

Para combater a ditadura militar e atingir os objetivos aqui expostos não recebemos do estrangeiro nem armas nem recursos financeiros. As armas são obtidas mesmo no Brasil, são as armas capturadas nos quartéis e tomadas da polícia ou são aquelas que utilizaram os revolucionários em toda revolução, aquela libertas das forças armadas da ditadura como fizeram o capitão Lamarca e os valorosos sargentos, cabos e soldados que o acompanharam na retirada do quartel de Quitaúna.

Esperamos que tais gestos continuem acontecendo e casos que sirvam de desmoralização dos gorilas e fortalecimento da revolução.

Quanto ao dinheiro, é público e notório que os grupos revolucionários armados assaltam os bancos do país e expropriam os que enriqueceram e exploraram de forma brutal o povo brasileiro. Acabamos a lenda do ouro de Moscou, de Pequim ou de Havana.

Os banqueiros não podem queixar-se, pois, só no ano passado, tiveram lucro de 400 bilhões de cruzeiros velhos, enquanto isso, o bancário ganha salário mínimo, e ainda tem que trabalhar 25 anos para receber o dobro desse miserável salário. O Governo, por sua parte, nada pode dizer, uma vez que um ministro corrupto como Andreazza tem apartamento no valor de um bilhão de cruzeiros velhos e recebe comissões das firmas estrangeiras.

A ditadura nos acusa de atentados pessoais e assassinatos, mas não confessa que matou Edson Souto, Marco Antônio Brás de Carvalho, “Escoteiro” – Nélson José de Almeida, o sargento João Lucas Alves e tantos outros patriotas. E não confessa que submete os presos aos suplícios do pau-de-arara, doschoques elétricos e outros que deixariam os nazistas envergonhados.

Os meios que a ditadura militar brasileira emprega para combater e reprimir o povo, são meios bárbaros e indignos, destinados a defender os interesses próprios dos militares no poder, os interesses dos grandes capitalistas, dos latifundiários e do imperialismo dos Estados Unidos. Ao contrário, os meios que os revolucionários estão utilizando para o combate à ditadura militar, são legítimos e inspirados por sentimentos patrióticos.

Nenhum homem honrado pode aceitar a vergonha e a monstruosidade do regime instituído pelos militares e suas forças armadas no Brasil.

Responderemos, olho por olho, dente por dente! A luta já começou!

Há um ano de atividades de grupos armados, conseguimos castigar o inimigo que já lamenta seus mortos e, embora a contragosto, reconhece a existência da guerra revolucionária. Desde o início de sua atuação até agora, os grupos armados expropriaram os banqueiros nacionais e estrangeiros e as firmas seguradoras do capital (…) conturbando a rede bancária brasileira. E expropriaram os grandes comerciantes, as firmas imperialistas, o governo federal e os governos estaduais.

Entre as ações já praticadas pelos grupos armados, inclui-se, a heroica operação guerrilheira que libertou o sargento Antônio Prestes e os demais companheiros presos na penitenciária Lemos de Brito, em pleno Rio de Janeiro; o justiçamento do capitão norte-americano Charles Chandler, que veio da guerra do Vietnam para fazer espionagem da CIA no Brasil, é outra prova de que os grupos revolucionários armados estão atentos na defesa da nossa soberania e na preservação dos interesses nacionais.

As demonstrações realizadas no país contra Rockfeller, especialmente no Rio, São Paulo e Brasília, em que tiveram papel saliente os estudantes, testemunha, por seu lado, que os norte-americanos são repudiados no Brasil e só contam com o apoio da ditadura militar brasileira. Mas esta é uma ditadura cuja política de traição nacional se tornou por demais conhecida para ser encoberta, ou camuflada pelos gorilas. A guerra revolucionária que estamos fazendo é uma guerra prolongada que exige a participação de todos, é uma luta feroz contra o imperialismo norte-americano e contra a ditadura militar brasileira que funciona como agência dos Estados Unidos dentro de nossa Pátria, é a continuação da luta heroica de Che Guevara iniciada na Bolívia, é uma luta profunda, ligada à transformação da sociedade brasileira.

Nossa luta de libertação do povo não pressa nem tem prazos. Não é uma quartelada, um golpe militar ou uma farsa para substituir, uns pelos outros, os homens no poder, deixando intacta a estrutura de classes da sociedade brasileira. Eis por que, todos os grupos armados revolucionários que estão lutando, devem prosseguir com a guerrilha urbana como temos feito sistematicamente até aqui, assaltando bancos, atacando quartéis, expropriando, intensificando o terrorismo de esquerda, justiçando, sequestrando, praticando em larga escala sabotagem para tornar desastrosas as circunstâncias em que o governo tem de agir. Devemos atacar por todos os lados com muitos grupos armados diferentes de pequenos efetivos, compartimentá-los uns dos outros e mesmo sem elos de ligação, a fim de dispersar as forças do governo na perseguição; devemos aumentar gradativamente os distúrbios da guerrilha urbana numa sequência interminável de ações imprevisíveis, e de tal modo, que as tropas do governo não possam deixar a área urbana sem risco de desguarnecer as cidades. São essas circunstâncias desastrosas para a ditadura militar que permitem aos revolucionários desencadear a guerrilha rural em meio a um incremento incontrolável da rebelião urbana.

Buscando a participação das massas na luta contra a ditadura militar e pela libertação do país do jugo dos Estados Unidos, nosso próximo passo deve ser a luta no campo. E esse será o ano da guerrilha rural. É esta a hora e a vez dos camponeses cujo instinto para o conhecimento do terreno, a astúcia para enfrentar o inimigo, a capacidade de comunicação com os explorados e oprimidos e os humilhados de todo o país, constituem uma arma certeira da revolução.

Assumir o campo, enfrentar a luta pela terra, pela eliminação do latifúndio, expropriar os latifundiários, queimar suas plantações, matar seu gado para matar a fome dos famintos, invadir as terras, justiçar os grileiros e os norte-americanos envolvidos com os grileiros em compras de terras, levar ao fundo do país a mesma inquietação e o mesmo terror que já dominam os militares, os imperialistas e as classes dominantes nas cidades. Eis aí o objetivo a atingir na segunda fase da guerra revolucionária.

Sem abandonar a guerrilha urbana, os grupos revolucionários armados devem com sua habilidade heroica ajudar o desencadeamento da guerrilha rural; nossos esforços devem convergir para a construção e o reforçamento da aliança armada dos operários e camponeses e sua coligação com os estudantes, os intelectuais, os eclesiásticos e a mulher brasileira. Essa aliança é o grande pedestal da luta no campo e da guerrilha rural, de onde surgirá o Exército Revolucionário de Libertação do Povo.

Tudo pela unidade do povo brasileiro!

Abaixo a ditadura militar!

Fora do país com os norte-americanos!

As prisões anunciadas pela polícia em São Paulo, Guanabara e Minas, não afetaram nossa Organização: a Ação Libertadora Nacional.

A polícia informou que os presos pertencem a vários grupos revolucionários e não os identificou com a Ação Libertadora Nacional. O noticiário da polícia não merece o menor crédito, mas, de qualquer maneira, devemos assegurar que a Ação Libertadora Nacional, até o momento, praticamente, [está] intacta. Isto não quer dizer que não tenhamos sofrido perdas. É impossível a uma organização revolucionária em plena atividade, não sofrer prejuízos e quedas. O fundamental porém, é que a espinha dorsal da Ação Libertadora Nacional não foi atingida. Tal fato se deve a que seguimos uma estratégia global e não estamos trabalhando pela montagem de um foco guerrilheiro. Quando se trata de um foco guerrilheiro, a sua descoberta pelo inimigo, geralmente significa a derrota. Nossa estratégia, porém, visa a montagem de uma infraestrutura guerrilheira em todo o país e se baseia na guerra revolucionária e, contra essa, o inimigo nada pode fazer.

A guerra revolucionária, no nosso modo de entender, abrange 3 fases: a fase da guerrilha urbana, a fase da guerrilha rural e a fase da guerra de manobras, quando surge o exército revolucionário.

A Ação Libertadora Nacional está pondo em prática o seu plano estratégico global e já atingiu a primeira fase da guerra revolucionária. Agora vamos passar à segunda fase.

O funcionamento da Ação Libertadora Nacional tem sido ininterrupto até o presente momento. Criamos um pequeno poderio de fogo, temos expropriado bancos e jogamos o ônus da guerra revolucionária sobre os ombros da grande burguesia, expropriando seus bens e recursos. Tomamos de assalto a Rádio Nacional de São Paulo e levamos ao ar nossa mensagem revolucionária ao povo brasileiro.

A ditadura militar encontra em nossa organização um opositor decidido, temos avançado com audácia e com cautela, não desafiamos o inimigo e só agimos quando estamos certos do êxito, não travamos combate em campo raso, atacamos e batemos em retirada decidida. Reconhecemos que somos infinitamente mais fracos de que o inimigo, não temos exército ainda e só agimos com pequenos grupos armados. Nossos grupos armados são separados uns dos outros, muitas vezes não temos elos de ligação entre os grupos, a coordenação dos grupos só é feita por poucos elementos. Não juntamos, jamais, numa casa só, nem tudo que possuímos nem todas as pessoas. Tudo o que fazemos é na base da guerra de movimento. Em nossa organização nem todo mundo conhece todo mundo e nem todas as pessoas conhecem-se entre si. Cada um só sabe o que diz respeito ao seu trabalho.

Quem não seguir esses princípios na Ação Libertadora Nacional está sujeito a ser apanhado pelo inimigo e a fracassar. Todo militante da Ação Libertadora Nacional é obrigado a ser vigilante e a não deixar pistas para a polícia, é obrigado a não denunciar os segredos da organização e a não denunciar os companheiros do seu próprio grupo sempre que acabar caindo na prisão.

Quando a polícia consegue prender algum revolucionário é que esse revolucionário cometeu alguma facilidade e isso deve ser evitado.

A polícia exagera os êxitos das prisões que realiza e a imprensa faz estardalhaço. Foi o que se viu com o MR8 e com Angra dos Reis. O povo não deve se impressionar com notícias de jornais e as informações da polícia. Em Angra dos Reis, o exército, a marinha e a aeronáutica perderam tempo caçando uma guerrilha inexistente.

A guerrilha rural surgirá no momento exato e ao inimigo não é dado conhecer o que a Ação Libertadora Nacional está preparando e onde desencadeará o próximo golpe atacando a ditadura militar, o latifúndio e o imperialismo norte-americano. Nenhuma prisão acabará com a guerra revolucionária no Brasil. A Ação Libertadora Nacional prossegue lutando e prosseguirá sempre.

Este ano será o ano da guerrilha rural.

OUÇAM CARLOS MARIGHELLA — A LOCUÇÃO SOBRE A GUERRILHA RURAL:

A guerrilha urbana brasileira surgiu do nada pois não tínhamos dinheiro, armas e munições e fomos obrigados a obtê-los por meio de expropriações. Agora, a guerrilha urbana está em [todo o país]. Nossa experiência consistiu em começar abalando o triângulo de sustentação da burguesia, do latifúndio e do imperialismo que é o triângulo Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Nesse triângulo, os grupos armados e revolucionários brasileiros, implantaram o terror, assaltaram bancos e quartéis, justiçaram espiões, libertaram revolucionários presos, promoveram deserções das forças armadas, capturaram armas, munições e explosivos. Os estudantes realizaram memoráveis manifestações de massa e empregaram corretas táticas guerrilheiras de rua. O clero, ou melhor os sacerdotes e os membros dos vários graus da hierarquia de todas as confissões religiosas, os intelectuais, a mulher brasileira manisfestaram-se contra a ditadura militar e os imperialistas norte-americanos, o resultado é que a guerrilha urbana e a guerra psicológica prossegue com êxito.

Reuniu na área urbana e de rebelião social e no que tange à mobilidade da propaganda, em particular da propaganda armada, todos os revolucionários veem e compreendem que devemos sanar nossas falhas na área urbana, acabar com as desnecessárias e ingênuas disputa de liderança, buscar a unidade dos grupos armados. Esta unidade deve ser estabelecida em torno da concepção estratégica e tática de luta por um governo revolucionário do povo, expulsando os norte-americanos, expropriação do seu capital e dos que com ele colaboram, expropriação do latifúndio, libertação e valorização do homem brasileiro, pelo caminho socialista.

A primeira fase da guerra revolucionária está em vias de completar-se, o que não significa, em nenhuma hipótese, diminuir o ritmo da guerrilha urbana e da guerra psicológica. Ao completar-se a primeira fase da guerra revolucionária devemos estar prontos, na área urbana, para receber o impacto da guerrilha rural e enfrentar uma perseguição muito maior da ditadura militar fascista, que passará a empregar contra nós a estratégia do cerco e do aniquilamento.

É necessário agora olhar muito mais a sério a tarefa de concluir e solidificar a infraestrutura revolucionária urbana e aumentar, ao máximo, os distúrbios da guerrilha urbana, diversificando as ações, e não dando tempo ao inimigo para respirar. Ninguém é (…) e não é necessário justificar nada. Não adianta sair na frente com armas e muito dinheiro e chegar no campo em primeiro lugar com um grupo de homens para lançar a guerrilha rural. Se a guerrilha rural não é lançada como decorrência da guerrilha urbana e como resultado da articulação da cidade com o campo, do ponto de vista da luta de classes dos operários e dos camponeses, tal guerrilha não deve vingar.

Nós dizemos que este será o ano da guerrilha rural; nós o afirmamos com conhecimento de causa e porque verificamos que a área urbana chegou a um ponto de conflagração atingido com a perplexidade da ditadura militar ante o terrorismo de esquerda e o volume das ações armadas expropriatórias.

A segunda fase da guerra revolucionária é a fase da guerrilha rural e não surge por acaso, ela é fruto de tudo que se preparou e se realizou anteriormente diante da lei básica da guerra e seguindo um plano estratégico e tático global e estabelecido de antemão.

Sem um plano estratégico e tático global é impossível atingir a segunda fase da guerra revolucionária e lançar a guerrilha rural. Esse plano estratégico e tático global determina que, antes do lançamento da guerrilha rural, os revolucionários que já estavam no campo e os que para lá se dirigirem, devem intensificar a montagem da infraestrutura revolucionária da guerrilha rural. É preciso continuar percorrendo os eixos guerrilheiros, estabelecendo pontos de apoio numa espécie de atividade à moda (…), construindo a rede de comitês de camponeses e a rede camponesa de informações para os revolucionários.

A guerrilha rural brasileira será feita sob a forma de marcha. Ela tem que estar educada para operações móveis desde as mais elementares às mais completas. Uma guerra revolucionária no Brasil será uma guerra de movimento como já está sendo na cidade através da guerrilha urbana. A guerrilha rural brasileira deverá surgir em meio à rebelião social no campo tal como a guerrilha urbana surgiu em meio à rebelião social na área das cidades.

Revolucionários do campo devem desde agora expropriar reacionários assim como expropriamos os bancos e os carros e trens pagadores nas cidades. As plantações de fazendeiros devem ser queimadas, o gado dos grandes pecuaristas e dos frigoríficos e das invernadas devem ser expropriado e abatido para matar a fome dos camponeses, a parte restante deve ser dispersada pelas áreas guerrilheiras afim de que o guerrilheiro rural encontre carne para comer. Os grileiros e os norte-americanos proprietários de terra devem ser tocaiados e mortos e bem assim os capangas dos fazendeiros. O mesmo castigo deverá ser imposto aos administradores, feitores e capatazes que perseguem os camponeses e destroem suas benfeitorias. Os latifundiários que exigem prestação de serviços gratuitos dos seus trabalhadores devem ser sequestrados e seus bens expropriados; os armazéns, os barrações onde são comprados gêneros a troco de vale devem ser saqueados; os cárceres privados em que os fazendeiros mantêm segregados os trabalhadores rurais devem ser destruídos, o mesmo deve acontecer com as cadeias públicas onde os camponeses estão presos; os arquivos das coletorias devem ser incendiados e bem assim as letras, as promissórias rurais e os demais papéis destinados à cobrança de dívidas e impostos dos camponeses; deve ser arrancado o capim onde os latifundiários ameaçam substituir por pastagem a lavoura dos camponeses. É preciso reprimir os despejos na bala, invadir as terras devolutas e as terras loteadas pelos fazendeiros e grandes companhias agrícolas.

Na segunda fase da guerra revolucionária, cumbe levar ao campo o mesmo terror de esquerda e a mesma inquietação que já dominam e apavoram, na área urbana, as classes dominantes, os militares e os imperialistas. Nessa fase da luta, os camponeses devem se armar as custas dos latifundiários, de quem devem tomar todo o armamento e munição. Alcançado o ponto máximo do distúrbio social no campo, lançaremos a guerrilha rural. Daí passaremos à constituição do exército revolucionário de libertação nacional. Seu núcleo fundamental será a aliança armada operária e camponesa e estudantil.

A última fase da guerrilha será a fase das operações de manobras. A ditadura militar será derrubada, os norte-americanos serão expulsos do país. O governo revolucionário do povo será instaurado. A máquina burocrático-militar do Estado brasileiro será destruída.

OUÇAM O CORRESPONDENTE LIBERTADOR:

A ditadura militar vem fazendo esforços desesperados para apresentar os revolucionários brasileiros como marginais e assassinos perigosos. No aeroporto de Congonhas em São Paulo, os militares do 2º exército fizeram pregar grandes cartazes com o seguinte título: “Assassinos e Terroristas Procurados”. Nesses cartazes estão as fotografias de revolucionários brasileiros que a polícia da ditadura acusa de bandidos. Os viajantes que chegam do estrangeiro e vêm esses cartazes admiram-se muito de que no Brasil o Exército e a Polícia estejam procurando um número tão elevado de bandidos e marginais responsáveis por homicídios, assaltos a bancos e outros crimes. Os estrangeiros se perguntam a si mesmos como é possível que um país, que se diz civilizado, ostente uma galeria tão grande e tão surpreendente de terríveis marginais. O resultado é que começa a repercutir no estrangeiro essa situação esquisita em que se encontra o país.

A ditadura militar confessa-se incapaz de prender os terríveis bandidos e marginais e apela para que o povo os denuncie. Ao que parece, o povo não colabora com a ditadura militar e os tais marginais não são denunciados. Na verdade não são marginais, nem bandidos, assassinos ou ladrões. Os homens que a polícia e o exército procuram como criminosos são revolucionários e patriotas que lutam a mão armada contra a ditadura militar e as suas leis.

A ditadura militar brasileira faz uma política de entrega do Brasil aos Estados Unidos. Os norte-americanos, hoje em dia, são os donos da indústria e do comércio no país; as empresas brasileiras são levadas à falência pela ditadura militar que cobra impostos exorbitantes e aniquila a economia brasileira. Os norte-americanos, através da compra das empresas falidas, pelas quais pagam um preço insignificante, estão se tornando senhores do Brasil. Comprando terras tornaram-se, igualmente, os maiores proprietários de terras do país.

Todos os dias a ditadura militar aumenta os preços, os impostos sobem sem parar, sobem os preços dos aluguéis, sobe o preço do pão, do leite, das passagens. A vida dos operários, dos camponeses, das pessoas das classes médias tornou-se um inferno. A ditadura militar ataca o povo com uma brutalidade jamais vista, os presos são espancados e torturados bestialmente, os suplícios são horríveis, o pau-de-arara, os choques elétricos, a sevicia das mulheres, as unhas arrancadas, as queimaduras no corpo. O sargento João Lucas Alves foi morto pela polícia de Minas Gerais depois de ter as unhas arrancadas e pedaços de carne retalhados como nos açougues.

Poucas famílias brasileiras existem que não tenham passado pelo vexame de ver o seu lar invadido pela polícia e que não tenham a lamentar a prisão ou o assassinato de um de seus filhos. A ditadura militar mantem campos de concentração na Ilha Grande e na Ilha das Flores. Os estudantes são vítimas diárias dos militares no poder que os espancam e matam, só porque protestam contra a ditadura fascista imperante no Brasil. O clero católico e os religiosos são perseguidos e mortos. Ainda há pouco, foi assassinado, no nordeste, o padre Henrique Ferreira Neto. Seus assassinos estão encobertos pela ditadura militar que estimula o terror contra os que lutam contra a falta de liberdade e a fome do povo. A imprensa não tem liberdade e não pode denunciar os crimes da ditadura militar.

Esse é o governo mais odioso que o Brasil já teve em sua história. Os militares pensam que podem enganar o povo e agora andam pregando cartazes na rua pedindo ao povo que denuncie os revolucionários que lutam contra o terror da ditadura e a miséria a que o povo está submetido. É justo, porém, que os patriotas e revolucionários combatam a ditadura e que o povo colabore com os revolucionários. É mentira que os revolucionários sejam marginais, assassinos ou ladrões. Os revolucionários são patriotas, são filhos queridos do povo, combatem a ditadura militar a mão armada porque não há outro jeito, porque no Brasil ninguém dispõe de outro meio, não há liberdade, só há terror e violência por parte dos militares, enquanto a fome se alastra e o povo sofre indefeso. O que o povo deve fazer é esconder os guerrilheiros urbanos cassados pela polícia, não denunciar nenhum revolucionário; quando um patriota for ferido pela polícia ajudar o patriota. O povo pode e deve colaborar com os revolucionários e ajudar a combater a ditadura.

Abaixo a ditadura militar!

OUÇAM CARLOS MARIGHELLA DESMASCARANDO A PROVOCAÇÃO DA CARTA FALSA A DOM AGNELO, CARDEAL DE SÃO PAULO:

Não tem nenhum fundamento a notícia de que escrevi uma carta ao cardeal de São Paulo, Dom Agnelo Rossi, justificando a colocação da bomba que explodiu no palácio episcopal.

O atentado contra o cardeal não partiu de nossa organização, a Ação Libertadora Nacional. O atentado é obra da direita. Seus autores devem ser procurados entre os homens da ditadura militar que inspiram assassinatos como o do padre Henrique Pereira Neto, da equipe de Dom Hélder Câmara no nordeste.

Nossa posição ante a igreja é de absoluto respeito à liberdade religiosa e pela completa separação entre a Igreja e o Estado. Não temos interesse em atacar a Igreja já que a Igreja, tal como nós, vem lutando pela liberdade e pela valorização do homem brasileiro. Não há contradição entre nós e a Igreja, já o mesmo não se dá com a ditadura militar. A contradição entre a Igreja e a ditadura militar é profunda. Os militares no poder são responsáveis por uma das mais negras perseguições já feitas à Igreja no Brasil. E isto não se dá por acaso. É que no país impera o fascismo implantado pela ditadura militar desde 1964.

Mandando jogar a bomba no palácio do cardeal em São Paulo e lançando culpa sobre nós, a ditadura militar quer fazer crer que somos inimigos da Igreja e da religião, tentando incompatibilizar-nos com os sentimentos religiosos do povo. Com isso pretendem, também, desviar a atenção do povo das perseguições feitas pela ditadura militar à Igreja. Todos, porém, se lembram que, há pouco tempo atrás, o cardeal Dom Agnelo Rossi fora considerado persona non grata pelos militares em São Paulo e nem mesmo chegara a rezar uma missa que deveria celebrar no QG do 2º Exército. Agora, depois da bomba, só as autoridades militares do 2º Exército é que vão solidarizar-se com Dom Agnelo. Tudo isso é muito suspeito.

Quanto à carta e à assinatura a mim atribuídas, não passam de uma grosseira falsificação. A carta é um amontoado de provocações da pior espécie, com expressões que jamais seriam utilizadas por um verdadeiro revolucionário. Tais provocações vêm entremeadas com frases de uma carta que eu escrevi aos homens das classes dominantes. Carta, aliás, onde não se encontra nenhuma referência ou advertência a Dom Agnelo e cujo teor é o seguinte:

CARTA CIRCULAR AOS HOMENS DAS CLASSES DOMINANTES.

Senhor, tomamos a iniciativa de dirigi-lhe a presente carta com o intuito de assinalar, para seu conhecimento, que a guerra revolucionária já está iniciada no país e que os gastos e implicações dessa guerra serão inevitavelmente tributados por nós às classes dominantes no Brasil.

É sabido e notório que os militares ocuparam o poder, pela violência, em 1964 e, não satisfeitos com isso, deram novo golpe fascista a 13 de dezembro de 1968, decretando o Ato Institucional nº 5. Além da força com que já contavam, passaram agora a ter no AI 5 um instrumento mais poderoso que qualquer outro para sufocar a liberdade de imprensa e as liberdades fundamentais, reprimindo o povo, paralisando o progresso e traindo os interesses da nação.

Os militares e as classe dominantes, das quais fazem parte, assumem assim a responsabilidade por tudo quanto de iníquo e pernicioso acontece no país incluindo o emprego sistemático da violência policial contra o povo. São, também, de sua responsabilidade o acelerado processo de corrupção, a desnacionalização e a entrega do Brasil aos Estados Unidos, país cujos interesses a atual ditadura defende com unhas e dentes em detrimento da nossa soberania. Não é de admirar, diante disso, que os revolucionários e patriotas brasileiros tenham tomado a decisão de iniciar a luta a mão armada para combater a ditadura e a política de traição nacional seguida pelos militares. Como decorrência dessa decisão, desencadeamos, em 1968, a guerrilha urbana, levando a efeito expropriações, captura de armas e munições e explosivos e praticando outros tipos de luta.

Em relação às expropriações que atingiram as classes dominantes o que fizemos foi instituir a cobrança do ICR, ou seja Imposto Compulsório da Revolução, destinado a manter a luta de libertação do povo brasileiro. O ICR é o contrário do ICM, ou seja Imposto de Circulação de Mercadorias cobrado pela ditadura para sustentar os militares no poder e manter sua máquina de repressão policial fascista. Com as expropriações iniciadas antes da vitória da revolução queremos demonstrar, desde agora, que uma vez vitoriosos, expulsaremos os norte-americanos do país e confiscaremos suas propriedades incluindo empresas, bancos e extensões de terras; confiscaremos o capital privado nacional que estiver associado ao capital norte-americano e se opuser à revolução; confiscaremos a propriedade latifundiária acabando com o monopólio da terra; confiscaremos as fortunas dos exploradores do povo.

No ano em curso, esperamos que, para não serem expropriados, venham ao nosso encontro os que desejarem cotizar-se e cumprir com sua parte de sacrifício na guerra revolucionária legitimamente deflagrada contra os traidores da nação.

Certamente de nossa parte não haverá um só momento de trégua, não descansaremos no combate ao AI5 e na luta para derrubar a ditadura substituindo-a pelo povo armado. Ao finalizar, advertimos mais uma vez as classes dominantes de suas responsabilidades ante a gravidade da situação do país.

A causa que defendemos é justa. A ditadura é que se coloca contra o povo sem resolver nada do custo de vida, dos aluguéis elevados, dos salários mesquinhos e dos impostos extorsivos. Ela prende, espanca, tortura e persegue inocentes. Tem então de remar contra a maré aumentando o já incontável número de seus inimigos enquanto que a simpatia do povo vem para nós. Isso nos dá a certeza de que nenhum patriota deixará de ajudar os revolucionários e de contribuir para a libertação de seu país.

OUÇAM O CORRESPONDENTE LIBERTADOR:

A Ação Libertadora Nacional, organiza a guerrilha, o terrorismo e os assaltos, no combate sem trégua que faz à ditadura militar e ao imperialismo dos Estados Unidos.

A Ação Libertadora Nacional luta pelo seguinte programa:

  1. derrubar a ditadura militar, anular todos os seus atos desde 1964, formar um governo revolucionário do povo;
  2. Expulsar os norte-americanos, expropriar suas firmas, bens e propriedades e as firmas, bens e propriedades dos capitalistas privados brasileiros que colaboram com os norte-americanos;
  3. Transformar a estrutura agrária do país expropriando e extinguindo o latifúndio, dando terra ao camponês, libertando e valorizando o homem do campo;
  4. Pela liberdade desde o campo político ao campo cultural ou religioso e extinguir a censura;
  5. Retirar o Brasil da órbita da política externa dos Estados Unidos, colocá-lo no plano mundial como nação independente. Reatar relações com Cuba e todos os demais países socialistas.

A Ação Libertadora Nacional luta pela aplicação das decisões da OLAS no Brasil. Um direito e um dever dos povos da América Latina é fazer a Revolução e esse é um dever do povo brasileiro.

A Ação Libertadora Nacional segue a OLAS quanto esta afirma que o caráter da Revolução é o da luta pela independência nacional, a emancipação das oligarquias e o caminho socialista para o seu pleno desenvolvimento econômico e social. Este é o caráter da Revolução brasileira.

A Revolução brasileira, desde o primeiro momento, se desenvolve através da expropriação da grande burguesia, do imperialismo e do latifúndio, sem excluir os negociantes mais ricos e poderosos nos ramos da importação e exportação. Ao expropriar os principais inimigos do povo a Ação Libertadora Nacional procura golpeá-los nos seus centros vitais, daí porque, a Ação Libertadora Nacional ataca de preferência e de maneira sistemática a rede bancária, quer dizer, desfecha os seus golpes mais profundos no sistema nervoso do capitalismo. Os assaltos a bancos realizados pela Ação Libertadora Nacional têm prejudicados os grandes capitalistas como Moreira Sales e outros, as firmas estrangeiras de seguros e resseguros, o capital (…). As firmas imperialistas, o governo federal e os governos estaduais todos eles expropriados até agora de maneira sistemática.

O lema da Ação Libertadora Nacional GTA quer dizer: guerrilha, terrorismo e assaltos: GTA, GTA, GTA

CARTA CIRCULAR AO BANCÁRIO BRASILEIRO

Prezado patrício,

Estamos lutando contra a ditadura militar responsável pela miséria e sofrimento do povo. São os militares, agora no poder, que aumentam os impostos, os aluguéis, e os preços administrados ao publico. São eles que prendem e assassinam os brasileiros, mantendo a imprensa arrolhada e o país debaixo do terror, privado de liberdade.

Ao levarmos a nossa luta patriótica não tínhamos outra alternativa senão tomar algumas armas à força e conseguir recursos financeiros expropriando-os dos bancos. Os banqueiros fizeram no ano passado uma consultoria a 400 milhões de cruzeiros novos enquanto isso os bancários recebem salário mínimoe os que chegam a ganhar pouco mais de 2 salários mínimos só conseguiram por estarem trabalhando a mais de 25 anos; um guarda bancário ganha 160 contos e as vezes menos. É justo que os revolucionários assaltem bancos e cobrem do banqueiros o ICR – Imposto Compulsório da revolução. Já que a ditadura cobra o ICM – Imposto de Circulação de Mercadorias para sustentar a máquina policial.

Se a rede bancária está conturbada e insegura o povo não tem nada a ver com tal situação e nós nada temos a ver com os assaltos de marginais. Na verdade, porém, é que esses assaltos só estão se verificando porque o país é governado por uma ditadura militar fascista. Enquanto essa ditadura não for derrubada a situação brasileira continuará tumultuada.

Os bancários brasileiros, na história das lutas e atos públicos, sempre ocupou um lugar de honra desencadeando memoráveis greves defendendo a soberania do país e batendo-se pelas liberdades democráticas, com uma tradição de luta tão (…) os bancários brasileiros, mais do que ninguém, sabem onde devem revolucionar, começando por organizar os futuros grupos paramilitar contra a ditadura e em prol da causa da libertação do Brasil.

Quem não desejar fazer nada a favor dos grupos revolucionários, que não faça nada contra.

A causa que defendemos é a causa do povo. Por essa causa é preciso que os brasileiros façam alguma coisa, nós estamos fazendo o possível para os resultados e a nossa revolta exista.

Abaixo a ditadura militar!

Fora os americanos!

TODA A MULHER NA REVOLUÇÃO!

A mulher brasileira tem um papel de decisiva importância na revolução, particularmente na guerra revolucionária do povo contra o imperialismo dos Estados Unidos e cuja expressão mais genuína é a guerrilha.

Os direitos sociais que a mulher mais necessita conquistar só se tornarão realidade plena com a mudança da estrutura econômica do país e a vitória da revolução. A participação da mulher no movimento revolucionário, desde o primeiro momento, constitui assim uma garantia do êxito futuro e uma arma terrível contra o conservadorismo e a vacilação. Na luta revolucionária não há homem que queira retroceder se na vanguarda encontra a mulher combatendo.

Incorporando-se à revolução e à luta guerrilheira, aprendendo a disparar e adestrando-se na tarefas de primeira linha, transportando tudo o que for necessário e emprestando sua [imensa] capacidade de trabalho e poder de inciativa e imaginação para desenvolver o apoio logístico, a mulher brasileira representa elemento precioso na construção da vitória da causa de nossa libertação. Cabe à mulher organizar-se em grupos revolucionários e participar de todas as tarefas exigidas pelas circunstâncias e as necessidades da luta do povo brasileiro.

O nosso lema é trabalhar sem descanso pela organização da guerra justa e necessária contra o imperialismo dos Estados Unidos. Tendo isso em vista, batalharemos por uma ação anti-imperialista, ou seja, uma frente popular revolucionária, não importa o nome que venha a ter. O fundamental é que seja uma frente capaz de unir as forças interessadas na destruição do imperialismo e na libertação do país pela via armada.

O TRIBUTO AO CHE

A figura de Che Guevara equipara-se aos grandes vultos da humanidade, cujos nomes ficaram na história como exemplos para gerações vindouras.

Quer como homem de ação, quer como teórico, Che Guevara foi um revolucionário incansável e persistente que jamais permitiu a dissociação entre as palavras e os fatos; sempre acreditou na força do exemplo pessoal e, por isso mesmo, lançou-se à frente do movimento guerrilheiro da Bolívia para levar à prática as teses que tão ardorosamente defendia.

Morreu lutando de armas na mão, mas foi ele o único surpreendido com o desfecho. Desde a sua mensagem à Tricontinental, um verdadeiro testamento político, havia afirmado:

“Em qualquer lugar que a morte nos surpreenda, que seja bem-vinda, sempre que esse nosso grito de guerra aja chegado até um ouvido receptivo e outros homens se apresentem para entoar os cantos fúnebres com o crepitar das metralhadoras e novos gritos de guerra e de vitória”.

A morte de Che foi um erro [irreparável] para o movimento revolucionário em todo o mundo, mas sim um exemplo para os inúmeros povos que lutam contra o imperialismo. Che Guevara propugnou por uma estratégia global dos povos contra a estratégia global do imperialismo dos Estados Unidos. São milhões de pessoas [que] aceitam a ideia da estratégia global dos povos contra o inimigo comum da humanidade, (…) a luta do povo do Vietnam contra o imperialismo norte-americano e mesmo Guevara comunga dessa mesma ideia e inflige pesado castigo aos marines.

Outros milhões de Guevara surgirão na América Latina e em todo o mundo lutando pelo mesmo ideal. Os dias do imperialismo estão contados! O sacrifício de Che Guevara é apenas o sinal de partida para os povos da América Latina que organizam sua luta pela liberdade.

ENTREVISTA À RÁDIO HAVANA (CUBA) – 1967

— Um telegrama da agência de notícia francesa France Press, datado de hoje no Rio de Janeiro, disse assim: Carlos Marighella será expulso por indisciplina do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, informa hoje a imprensa de Brasil. Os diários locais, que se baseiam em informações de obtidas em organismos de segurança brasileiros, indicam que essa decisão do Partido Comunista Brasileiro foi motivada pelo fato de Marighella ter ido à Havana para assistir à Conferência da OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade. Precisamente nos encontramos sentado à frente de Marighella, no seu quarto no hotel Habana Libre, para que nos dê sua resposta a este telegrama e ao mesmo tempo nos fale a respeito da situação atual do seu País.

— O que tenho a explicar ao povo cubano é que estes telegramas indicam apenas que os periódicos brasileiros procuram utilizar-se do episódio da minha vinda à Cuba para fazer provocações contra os revolucionários.

A notícia de que eu serei expulso do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro ou do Partido Comunista Brasileiro por indisciplina é baseada no fato de que foram obtidas informações nos organismos de segurança brasileiros, quer dizer, nos organismos policiais que não podem realmente saber de nada. De qualquer maneira, como tenho uma posição divergente em relação à Direção do Partido Comunista Brasileiro, porque sou partidário da luta de guerrilhas como caminho para a solução dos problemas do nosso povo. Creio que seria ridículo expulsar um revolucionário somente porque veio a Cuba trazer a solidariedade do povo brasileiro à Revolução cubana e à primeira Conferência de Solidariedade Latino-Americana.

Quanto à questão levantada nesses telegramas, que noticiam as posições dos jornais brasileiros de que pertenço a uma fração do Partido Comunista juntamente com outros camaradas no sentido de desrespeitar as decisões da Direção do Partido Comunista Brasileiro, porque somos favoráveis à luta armada, devo esclarecer ao povo cubano que não pertenço a nenhuma fração.

Sou o Primeiro Secretário do Partido Comunista em São Paulo, do Comitê Estadual do Partido Comunista em São Paulo e não tenho nenhuma necessidade de organizar um grupo, de organizar uma fração, nem mesmo de organizar um novo Partido Comunista, porque já temos em nosso país muitas organizações.

Há uma grande confusão ideológica, muita gente que pretende atribuir-se a condição de líder, de dirigente, mas, tudo isso baseado em declarações, em elaborações de informes, na realização de reuniões, quando o fundamental, para nós, no Brasil, é passar à ação, é desencadear a luta armada, é organizar a luta de guerrilha.

Somente em torno da luta de guerrilhas, somente em torno de um caminho revolucionário como este é que se pode realizar a unidade dos revolucionários, a unidade do povo brasileiro e assim, seria perder tempo participar de frações, tentar organizar novos Partidos e percorrer um caminho convencional que não nos ajudará em coisa nenhuma e só nos levará a passar ainda mais anos dentro da pasmaceira em que nos encontramos atualmente. Não. Minha posição e a dos camaradas que estão com a mesma disposição, que têm a mesma convicção é exatamente a da preparação da luta armada, do desencadeamento da luta de guerrilhas e da concentração de todos esforços nessa atividade. Era isso o que tinha a esclarecer.

— Marighella, existe no Brasil forças revolucionárias capazes de resistir à ditadura e a ir a uma luta armada contra o regime?

— Sim. Existem essas forças. As forças revolucionárias capazes de resistir à ditadura e de ir a uma luta armada contra o regime encontram-se dentro do Partido Comunista Brasileiro e fora do mesmo partido. Há várias organizações, agrupamentos ou redes e forças outras que defendem uma posição revolucionária e estão dispostas a ir à luta armada e têm a convicção de que o caminho brasileiro para a salvação de nosso povo é a luta armada e que podem realizá-la. Quando existem condições, tais como as que se apresentam em nosso país, essas forças revolucionárias são criadas praticamente dia a dia e hora a hora. O que é necessário é passar à ação, fazer com que essas forças se coordenem no mesmo sentido e que passem ao desencadeamento da luta, que se preparem. Que vão portanto à área rural, que é onde, no Brasil, nós podemos desenvolver a luta que pode ser apoiada pelos trabalhadores, por todo o povo dentro das áreas urbanas e, neste sentido, marchar para conseguir a vitória que no Brasil só poderemos conseguir se realmente juntarmos esse nosso esforço ao esforço de todos os outros povos latino-americanos .

— Agora queremos lhe perguntar acerca da responsabilidade que corresponde ao Partido Comunista Brasileiro ante o golpe militar de 1964.

— Não há praticamente uma responsabilidade do Partido Comunista Brasileiro em relação ao golpe militar de 1964. A responsabilidade, se quiséssemos falar assim, maior cabe à Direção do Partido Comunista Brasileiro. Por que à Direção do Partido Comunista Brasileiro cabe orientar as bases, traçar os planos e enfim orientar todo o povo, dar as diretivas necessárias para que a luta seja enfrentada.

Ora a Direção do Partido Comunista Brasileiro seguiu um caminho de submissão à liderança da burguesia, confiava que os generais brasileiros pudessem vir a resolver a situação do povo, confiava num dispositivo militar. Realizava, na verdade, ou propunha a realização de, um trabalho de cúpula nos altos níveis das organizações.

Não era um trabalho realizado pela base em que o povo participasse diretamente de baixo para cima, portanto, um trabalho que tivesse uma estrutura firme em que o proletariado o campesinato ou as forças de massa no Brasil estivessem mesmo atentas para a situação. Então, a Direção do nosso partido era uma direção que estava conduzindo na base de ilusões de classe, ilusões com a burguesia.

É evidente que com essa posição deixou o povo brasileiro inteiramente despreparado e quando sobreveio o golpe militar de 1965 [sic] é evidente que não havia condições para resistência. O povo se encontrava na rua, não tinha armas entretanto. E não havia nenhuma ação daquelas forças do governo e da burguesia que o Partido ou melhor, a Direção do Partido sustentava que iriam reagir. O resultado é que, inteiramente desprevenido e despreparados por todas as ilusões que haviam sido defendidas pela Direção do Partido, ficamos, ficou todo o povo brasileiro impossibilitado de impedir que o golpe se concretizasse como acabou se concretizando.

Este é um caso típico de uma lição, de um ensinamento que se pode obter exatamente pelo fato de que a liderança comunista deixa de acreditar no proletariado como força dirigente da Revolução, deixa de acreditar na aliança fundamental do proletariado que é o campesinato para lançar-se de mãos e pés amarrados diante da burguesia, sem condições, portanto, de impedir o golpe que fatalmente virá, em quaisquer circunstâncias, sempre que o Partido Comunista não se preparar para a luta armada e não se preparar para organizar as forças armadas do povo que é a única coisa que pode deter a posição, a ação dos imperialistas norte-americanos contra a liberdade do povo brasileiro e dos povos da América Latina

— Que forças revolucionárias e que tipo de organização você acredita que conseguiria a aliança armada de operários e camponeses que se demonstra como necessária para chegar a criar o núcleo do Exército de Libertação brasileiro?

— O que nós revolucionários comunistas estamos empenhados na luta armada e temos a firme convicção que só a luta armada resolverá a situação brasileira, o que nós revolucionários, o que nós comunistas estamos pensando é que, em face da situação brasileira e das organizações que ali existem, o que deveríamos fazer era procurar lançar a luta de guerrilhas na área rural do país sem nos preocuparmos em que qualquer das organizações existentes tomasse a iniciativa, qualquer das organizações existentes como tal. Não se trata de que essa luta armada, de que essa guerrilha no Brasil tenha que ser organizada somente pelo Partido Comunista Brasileiro ou por qualquer outra organização existente dentro das que atuam no Brasil, seja a organização dos partidários de Brizola, de Arraes, de Julião, da Ação Popular, da POLOP, da Política Operária e mesmo das organizações da esquerda católica.

O problema não se situaria portanto, na criação, agora, de uma organização que fosse dar a diretiva de realizar a luta armada mas começar a luta armada com os revolucionários de dentro e de fora do Partido e de todas as organizações que estejam dispostos, dentro de um plano estratégico-político global iniciar a luta, fazer com que essa luta armada, que no caso brasileiro como no caso latino-americano tem que ser a luta guerrilheira, fazer com que essa luta tenha um caráter duradouro, que dure, que tenha continuidade ainda que a principio seja uma luta que não mobilize um grande número de homens mas que possa obter êxitos iniciais, manter-se e implantar-se na área rural do país. Isto dará confiança ao povo brasileiro, essa luta progredirá e, nessas condições, então no processo será possível criar-se a verdadeira organização revolucionária capaz de levar à vitória o povo brasileiro através da luta de guerrilhas.

— Pergunta: É possível lutar pelas reformas de base em forma pacífica em um Brasil governado por gorilas?

— Não. Não é possível lutar por essas reformas através do caminho pacífico e no Brasil com a ditadura que tem no presente momento. Já anteriormente, quando havia o governo de João Goulart, nós seguimos, ou melhor, o nosso Partido e sua Direção, enfim os revolucionários no Brasil, seguiram esse caminho de lutar pelas reformas de base pelo caminho pacífico e sob a liderança da burguesia. Isto nos levou a um fracasso completo e total porque nas condições atuais a burguesia no Brasil ou em outros países não tem condições de dirigir uma revolução e não há condições, também, no momento em que o imperialismo lança mão de sua estratégia global, não há condições para se obter uma vitória pacífica através dessa luta pelas reformas as reformas de estrutura.

As reformas de base de que necessitamos no Brasil, e de que necessitamos em muitos países da América Latina só se pode conseguir através da luta revolucionária ou melhor através da tomada do poder pela via revolucionária, quando somente então e com forças armadas do povo em ação podemos dominar a ação das forças reacionárias, a ação do imperialismo e realizar então essas reformas, levar o país até o socialismo, fora disto não é possível, e a lição que recebemos no Brasil é uma lição que pode servir para os demais povos da América Latina.

— Pergunta: Marighela por último quiséramos perguntar-lhe o seguinte: Que espera o movimento revolucionário brasileiro desta primeira conferência da Organização Latino-americana de solidariedade?

— Para o povo brasileiro a primeira conferência da Organização Latino-americana de solidariedade OLAS, significa muito, significa mesmo o passo mais avançado que já foi dado na América Latina para que reunamos todas as nossas forças num plano estratégico global visando obter a libertação do nosso país do jugo do imperialismo norte-americano. Somente agora, e depois que a Revolução Cubana conseguiu a sua grande vitória e se encaminhou pelo terreno da construção do socialismo no primeiro país da América Latina, tornou-se possível então congregar todos esses esforços dos revolucionários de toda a América Latina, como acontece agora nesta primeira conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade para enfrentar a estratégia global do imperialismo norte-americano.

Eu espero que o movimento revolucionário brasileiro saberá compreender a importância desta primeira Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade e que se junte aos esforços que todos fazemos no sentido de, como disse o Comandante Che Guevara:

“Criar, um, dois, três, muitos Vietnãs”.

Fontes:

http://www.youtube.com/watch?v=pHxgJ1dswMU&feature=youtu.be 

http://www.marxists.org/portugues/marighella/ano/mes/radio.htm

 

Rádio Libertadora criada por Carlos Marighella durante a ditadura:
“Esse é o governo mais odioso que o Brasil já teve em sua história. Os militares pensam que podem enganar o povo e agora andam pregando cartazes na rua pedindo ao povo que denuncie os revolucionários que lutam contra o terror da ditadura e a miséria a que o povo está submetido. É justo, porém, que os patriotas e revolucionários combatam a ditadura e que o povo colabore com os revolucionários. É mentira que osrevolucionários sejam marginais, assassinos ou ladrões. Os revolucionários são patriotas, são filhos queridos do povo, combatem a ditadura militar a mão armada porque não há outro jeito, porque no Brasil ninguém dispõe de outro meio, não há liberdade, só há terror e violência por parte dos militares, enquanto a fome se alastra e o povo sofre indefeso. O que o povo deve fazer é esconder os guerrilheiros urbanos cassados pela polícia, não denunciar nenhum revolucionário; quando um patriota for ferido pela polícia ajudar o patriota. O povo pode e deve colaborar com os revolucionários e ajudar a combater a ditadura.
Abaixo a ditadura militar!”

fonte

http://www.rededemocratica.org/index.php?option=com_k2&view=item&id=6287%3Amarighella-na-r%C3%A1dio-libertadora

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