O documento detalha a composição da mesa do evento, que contava com políticos, advogados, intelectuais e familiares de desaparecidos políticos, como Eunice Paiva e Yolanda Pires. Além disso, a vigilância se estendia aos participantes da plateia, listando nomes como os generais reformados Euler Bentes Monteiro e Peri Beviláqua, o arquiteto Oscar Niemeyer e militantes de esquerda. Isso demonstra como o regime considerava qualquer ato público em prol da anistia como um risco político, identificando e classificando indivíduos para possíveis futuras repressões.
A fala de Eunice Paiva, registrada no relatório, reforça a denúncia do desaparecimento forçado de Rubens Paiva e a brutalidade do regime, mencionando que tanto ela quanto sua filha de 15 anos também foram presas. O fato de sua participação ser destacada no documento mostra como o governo militar via as denúncias dos familiares dos desaparecidos como uma ameaça, buscando desacreditar e desmobilizar essas vozes. Sua exigência de que o caso fosse investigado pela Comissão de Direitos Humanos e pela Aeronáutica também revela a insistência dos familiares em buscar a verdade, apesar das tentativas do regime de ocultá-la.
Outro ponto relevante é a preocupação do relatório com a crescente radicalização dos movimentos pró-anistia e a tentativa do governo de controlar a narrativa sobre a Lei da Anistia. O documento indica que o SNI possuía gravações e fotos do evento, evidenciando o nível de espionagem e repressão sobre os opositores. Além disso, o relatório critica a “demonização” dos militares e reforça a narrativa oficial de que a anistia deveria excluir aqueles classificados como “terroristas”, ao mesmo tempo em que protegia agentes do Estado envolvidos em torturas e assassinatos.
Esse documento reforça o padrão de perseguição política da ditadura, que não apenas reprimia opositores, mas também acompanhava e intimidava suas famílias, tentando impedir que as violações de direitos humanos viessem a público. O controle minucioso de cada detalhe do evento, desde a lista de participantes até a reprodução de falas, demonstra a obsessão do regime em silenciar qualquer mobilização por justiça e memória. O caso de Eunice Paiva exemplifica a resistência de familiares de vítimas da ditadura, que lutaram incansavelmente para revelar a verdade sobre os crimes cometidos pelo Estado.
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