Imagine Dora numa época sem internet morando num frio país europeu e sabendo que brasileiros ainda estavam sendo perseguidos pela ditadura. Maria Auxiliadora sofreu torturas cruéis por parte dos bandidos da ditadura e acabou indo para a Alemanha. Nesse país não conseguiu superar tanto sofrimento que marcou sua vida.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos nasceu em 25 de março de 1945 em Antônio Dias/MG. Era integrante da organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e foi presa em novembro de 1969, com Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier. Dora, ou Dodora, como era chamada, e Chael foram vítimas de torturas severas. Ela passou por choques elétricos e palmatórias nos seios e Chael morreu, por conta dos pontapés levados, 24 horas após os maus tratos. O “crime” desses brasileiros: defender um país melhor para todos.
Depois do sequestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Bucher, Dora entrou na lista dos 70 presos políticos banidos para o Chile como moeda de troca. Lá, ela deu suas declarações sobre as torturas sofridas no Deops a um documentário intitulado Brazil: A Report on Torture (1971). Após o governo do ditador Augusto Pinochet ter impedido que ela continuasse seus estudos no Chile, Dora migrou para a Bélgica e conseguiu asilo político na Alemanha Oriental, em 1974.
Em 1976, precisou ser internada numa clínica psiquiátrica em Spandau devido a problemas emocionais. Embora tenha recebido alta, atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim Ocidental, em 01 de junho de 1976, morrendo instantaneamente. Foi a maneira de se libertar desse mundo cruel.
“Foram intermináveis dias de Sodoma. Me pisaram, cuspiram, me despedaçaram em mil cacos. Me violentaram nos meus cantos mais íntimos. Foi um tempo sem sorrisos. Um tempo de esgares, de gritos sufocados, um grito no escuro.”, Dodora no livro “Direito à Memória e à Verdade”.
“Charles Chael, que foi chutado igual a um cão, cujo atestado de óbito registra sete costelas quebradas, hemorragia interna, hemorragias puntiformes cerebrais, equimoses em todo o corpo.”, Dodora sobre Chael.
“Quero recordar três companheiros que se foram na flor da idade. Carlos Alberto Soares de Freitas. Beto, você ia adorar estar aqui conosco. Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui com cada um de nós. Iara Iavelberg. Iara, que falta fazem guerreiras como você. O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.”, trecho de discurso da presidenta Dilma Rousseff, durante Congresso do PT, em 2010.
“Nos anos sangrentos da guerra suja no Brasil, Carlos Alberto, o Beto, e Maria Auxiliadora, a Dodora, eram a mais completa tradução do ‘endurecer sem perder a ternura’. Belos e idealistas, encarnaram a figura do guerrilheiro romântico sob a insígnia da VAR-Palmares.”, Chico Otávio, em As histórias de Beto e Dodora, O Globo, 9 de janeiro de 2011. Maria Auxiliadora Lara Barcelos,a Dora foi uma heroína na luta contra os bandidos da ditadura.