Em 2002, quando eu pesquisei o arquivo físico da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, em busca de pistas que me conduzissem aos desaparecidos políticos, me deparei com inúmeros documentos sobre conflitos no campo.
Considero o relatório do Inspetor do Ministério do Trabalho, Manoel Munhoz, um dos mais importantes, pela exposição minuciosa das relações feudais existentes no campo paranaense na metade do século XX.
Em 1976, o trabalho escravo na Fazenda Padroeira, situada no município de Matelândia, foi escancarado graças às inúmeras denúncias que partiam dos trabalhadores submetidos as mais cruéis formas de exploração.
As denúncias acabaram chegando às autoridades do Ministério do Trabalho, que designou o Inspetor Manoel Munhoz para fazer uma verificação in loco.
Durante três dias, o Inspetor ouviu os trabalhadores, e ao final produziu um importante documento relatando as condições em que viviam os camponeses e suas famílias e as relações feudais a que eram submetidos.
Quando entrou na Fazenda para fazer sua inspeção, Manoel Monhoz se deparou com quatro mil famílias que trabalhavam e viviam em condições sub-humanas num imenso latifúndio de 3300 alqueires cortado por 135 quilômetros de estradas.
De acordo com o relatório do Inspetor do MT os contratos entre os trabalhadores e o proprietários eram de parceria, onde os camponeses eram obrigados a tratar a terra, plantar e colher, ficando 30 por centro do produto colhido com o arrendatário e 70 por cento para o proprietário.
Ainda, segundo o relatório, dos 30 por cento que ficavam para o camponês, eram deduzidos o uso da trilhadeira, que pertencia ao latifundiário, a taxa de umidade encontrada nos cereais, as impurezas, etc
Além disso, os trabalhadores eram obrigados a vender os produtos ao dono da fazenda (que estipulava o preço) e os arrendatários recebiam vale armazém pelo valor dos cereais vendidos. esses vales eram direcionados para fazer compras em armazéns designados pelo dono da fazenda.
O relatório do Inspetor Manoel Munhoz, é um importante documento sobre as condições a que eram submetidos os trabalhadores nas fazendas do Oeste do Paraná.
No documento o Inspetor relata as mortes e ameaças de morte de camponeses que resistiam a exploração e a existência de jagunços armados para evitar “fuga” de trabalhadores e seus familiares.
Observação: As fotografias dessa publicação, são da ocupação da Fazenda Padroeira pelos camponeses, ocorrida em 1988, doze anos após o relatório do Inspetor Manoel Munhoz