HOMENAGEM A SATURNINA ALMADA.
” estive presa 13 anos, por
Pensar diferente do regime ”
Recente morreu a militante anti ditatorial, dona Saturnina Almada, mais conhecida como Tina. O Grupo Memória teve a oportunidade de entrevistá-la. Em duas oportunidades nos deparamos com ela, na sua casa, em Fernando de la Mora. Alegre, sempre de bom humor, simpática e sempre disposta a relatar suas experiências de luta, as suas vivências em emboscada, em algumas delegacias da estadia no exílio, o seu retorno. Esta é a entrevista publicada na ditadura e memória, número 1/2, ano 2013. A publicamos na recordação de quem estivesse presa por mais de 13 anos. Sua determinação, suas experiências, suas vivências, devem ser conhecidas por todos os novos militantes, para contar com um arsenal de informações que lhe serão de grande utilidade.
Texto
P.- Quando e como foi a sua detenção?
Tina.- O fato ocorreu em 8 de Janeiro de 1968., cerca de 8 pessoas chegaram a minha casa que estava em ayolas e 5 ta. Projetada. Eram Civis. Aproximadamente eram as cinco da manhã. Eu vivia já com Afonso Silva. Este tinha saído cedo, porque tinha que se encontrar com um compueblano. Eles me perguntaram pelo meu marido, mas, na verdade, já tinha sido preso. Então, eles levaram-me a mim a investigações, onde vi o Afonso espancado e banhado em sangue, em consequência das fortes torturas que lhe tinham dado. Para mim, me tiveram ali parada durante oito horas, olhando para a parede. Eu não podia andar corretamente, devido ao inchaço dos pés e das dores. Estava parada perto de um escritório da polícia, que falavam e eu conseguia ouvir tudo o que diziam. Aí me dei conta do estado totalitário do nosso regime. Esses policiais receberam informações de, praticamente, cada quadra da cidade. Ao menor movimento suspeito, eles já sabiam que algo estava errado.
P.- Uma vez em investigações o que aconteceu?
Tina.- me chamou pastor coronel e disse-me que lhe dissesse onde estava Carmen Soler. Eu não sabia nada sobre ela. Não tinha contatos com ela. Eu tinha vindo a Assunção, a trabalhar e buscar para mim casa, dizia-lhe. Então ele ligou para os seus torturadores e disse que me “dão banho”.
P. O que significa isso?
Tina.- Era a forma de dizer que me pileteen. Lá me torturaram
Selvagemente. Meteram-me para a piscina, me batiam na sola do pé, me davam golpes no corpo. Era uma coisa incrível. Acho que foram três ou quatro dias de tortura.
P.- Eles insistiam em que sabia alguma coisa da Carmen Soler?
Tina.- Me disseram que eu estava sob a tutela dela e que tinha informações, sobre certos planos comunistas. Eu não conhecia a Carmen Soler. Depois daqueles dias terríveis, mantiveram-me numa espécie de cozinha e podia ver Afonso, que estava na varanda de uma casa e lá eu via suas costas que estava totalmente marcada pelos golpes recebidos. Ele foi muito torturado. Teve que ir para o hospital da polícia, na sequência dessas torturas.
P. E o que aconteceu depois?
Tina.- Terei Estado um mês em investigações e então me levaram para a delegacia da chacarita. Lá terei estado um ano, mais ou menos. Acontece que o calabouço dava um buraco e quando chovia muito, esse calabouço parecia que ia cair. Um dia, choveu muito e partiu-se-à parede e nós já pensávamos que íamos cair. Então protestamos e lá fomos levados para a delegacia de Fernando de la mora.
P. Como era a situação na esquadra de Fernando da
Amora?
Tina.- Estávamos várias presas políticas, umas seis ou sete, em uma peça pequena, de dois metros por três. Dormíamos no chão, porque nem colchão nos permitiam ter. No verão o calor era impressionante e nós, não tínhamos nenhuma janela de respiração. Recentemente quando os delegados da cruz vermelha internacional, vieram nos visitar, mudou a situação.
P. Como foi que se deu essa visita desta organização e
Quando?
Tina.- Não lembro quando foi, mas deve ter sido nos primeiros anos da década de 1970. Um dia recebemos camas, lençóis limpos e novos, almofadas, flores e até uma mesinha localizada na cela.
P.- O que aconteceu lá?
Tina.- Nesse dia vieram estes delegados. Todas nós, por isso dissemos que nada disso era nosso. Dissemos, que foram trazidas as camas e os lençóis porque eles chegariam. “as nossas coisas estão no fundo do calabouço, lá fora”. eles foram e viram que estavam nossas poucas coisas. Os policiais já estavam furiosos e nós não tivemos medo e contamos como nos tinham e, também lhes dissemos que queríamos. Lá recentemente, depois de não sei quantos anos, conseguimos dormir em uma cama como a gente.
P.- Quem estava lá?
Tina.- Idalina Gaona, oilda recalde, Lina Rodes. Estava uma colega que era médica e também dirigente político. Morreu de câncer depois. Lá estivemos 10 anos juntas. Isabel Ortiz, que também estava connosco, saiu aos 8 anos.
P. Como era um dia no calabouço? Como eles se organizaram?
Tina.- Cada dia uma estava encarregada de cozinhar. Desde o café da manhã até o jantar. Então todos os dias, nós trocamos. Nós trabalhávamos na cela. Uma para crochet, outra para bordado e outras artes. Às que não sabiam, se lhes ensinava. Estes trabalhos eram vendidos lá fora ou os próprios policiais, que nos pediram. Por exemplo, vinham e diziam que queriam uma toalha de mesa bordado ou qualquer outra coisa, que eles sabiam que nós fazíamos.
(do amigo Carlos Alberto Cáceres)
Foto 1- Capa do jornal Nosso tempo, de Foz do Iguaçu, anunciando entrevista com Saturnina Almada.
2. Foto 2. Entrevista que eu fiz com Saturnina Almada, quando ela passou clandestinamente por Foz do Iguaçu.
Quando ela morreu?
Pq ela foi pega?…..qual foi o motivo de sua apreensão?
Saturnina foi presa e torturado devido sua luta contra a ditadura
Olá Pessoal do Documentos Revelados, boa tarde!
Parabéns pelo site.
Abraços,
André
Obrigado André