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No dia 16 de novembro de 2008 fui procurado por Jorge Barrett, irmão de Soledad e sobrevivente da chacina ocorrida em Pernambuco onde morreram seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR.
Na ocasião gravei uma longa entrevista com o Jorge. Segurei durante esses três anos e quatro meses esse material arquivado em fitas K7 por achar que a entrevista tem algumas falhas técnicas e revelações polêmicas. Porém, às vésperas da instalação da Comissão da Verdade julgo ser importante divulgar a entrevista com o irmão de Soledad Barrett.
“Meu pai fez parte do grupo que fundou o Partido Comunista Paraguaio”
“Nazistas uruguaios marcaram com a cruz suástica as coxas de Soledad. Isso marcou a vida dela”
“Soledad me pediu pra alugar um apartamento em São Paulo, para onde ela se mudou e ficou esperando ordens de Onofre Pinto”
“Onofre marcou ponto em São Paulo entre Anselmo e Soledad por meio de uma carta”
“Eu aluguei o apartamento em São Paulo em meu nome e Soledad usava seu nome legal”
“Certa ocasião saí de São Paulo e fui ao Chile levar uma carta do Anselmo para Onofre Pinto. Voltei com 20 mil dólares e levei para Olinda”
No dia 16 de novembro de 2008 fui procurado por Jorge Barrett, irmão de Soledad e sobrevivente da chacina ocorrida em Pernambuco onde morreram seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR.
A última vez que eu havia estado com Jorge foi em maio de 1973, no apartamento de sua irmã Nany, em Santiago do Chile.
Portanto, eu não via o “Mitaí” há 36 anos. Quando eu o conheci o apelido em guarani, que significa menino, encaixava muito bem. Naquela época Jorge era magro, tinha os cabelos compridos, um projeto de barba e, logicamente, tinha cara e voz de adolescente. Era o próprio Mitaí.
Ele era, pode-se dizer o “pombo-correio”, o apoio de sua irmã. Foi Jorge que alugou o apartamento em São Paulo, onde Soledad foi morar quando entrou no Brasil como militante da VPR. E foi Jorge que levou do Chile para Pernambuco as cartas que desencadearam as prisões e mortes em Pernambuco.
No dia 7 de janeiro de 1973 foram presos e torturados até a morte, Pauline Reichstul, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, Eudaldo Gomes da Silva, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva e Soledad Barret Viedma.
Pauline foi golpeada com golpes de culatra na cabeça no ato de sua prisão na butique da amiga Sonja Maria Cavalcanti, em Boa Viagem. Ela fora à butique acompanhando Soledad Barret, numa entrega de artesanato. Estavam conversando com Sonja quando cinco homens entraram no estabelecimento.
Pauline morreu em conseqüência das pancadas e Soledad foi jogada num camburão junto com o corpo sem vida da companheira de organização.
Jarbas Pereira Marques foi preso na Livraria Moderna, em Recife, Manoel da Silva num Posto de Gasolina, no município de Toritama, localizado a170 quilômetrosde Recife. Evaldo Luiz Ferreira foi preso na residência de Soledad, localizada em Rio Doce, bairro de Olinda e Eudaldo Gomes da Silvo, num hotel de Recife onde havia ido trocar dinheiro.
Soledad, Jarbas, Evaldo, Eudaldo e Manoel, foram presos pela equipe do delegado Sérgio Fleury, que os torturou até a morte. Seus corpos, juntamente com o de Pauline, foram levados para o sítio de São Bento, em Abreu e Lima, cidade localizada a16 quilômetrosde Recife.
Os torturadores e assassinos crivaram de balas os cadáveres dos seis combatentes, jogaram várias granadas na casa da referida chácara, com o objetivo de aparentar um violento tiroteio, dizendo que lá se realizava um suposto congresso da VPR.
A ação repressiva foi possível devido a colaboração do “cabo” Anselmo, infiltrado na VPR.
Jorge, que mora atualmente em Assunção, me procurou para falar, para desatar o nó na garganta que o atormentava desde que saiu da prisão no Brasil.
Foi assim que liguei um gravador de fita k7 e gravei. Gravei o que foi possível. Foram 7 fitas em total. Eu pensei em degravar a entrevista, mas por fim mantive o áudio com todas suas imperfeições e os vai e vem da entrevista.
A entrevista está dividida em cinco faixas.
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