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Olavo Hansen foi o primeiro operário morto no DEOPS/SP na ditadura militar brasileira. Seu assassinato em 1970, segundo Elio Gaspari, foi um primeiro “embaraço” ao governo Médici, que buscava negar, a despeito das denúncias internacionais, que houvesse tortura em suas prisões.
Olavo Hansen nasceu no Município de São Paulo em 1937. Militou no movimento estudantil e, nos anos 1960, foi membro da União Nacional dos Estudantes (UNE), em São Paulo. Membro do Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT, tendo o partido decidido pela proletarização de seus quadros, Hansen abandonou o curso de engenharia da Universidade de São Paulo e empenhou-se na política sindical. Em 1970, trabalhava na indústria química.
Ele já havia sido preso em 1963 por distribuir panfletos sobre Cuba; em novembro de 1964, por participar de assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo solto apenas em março de 1965[*4]. No dia 1º de maio de 1970, na praça de esportes da Vila Maria Zélia, foi preso novamente com mais 18 pessoas durante a comemoração operária do Dia do Trabalho, pelo 1º Batalhão de Polícia da Força Pública, devido à posse de panfletos subversivos. Enviados para o Quartel General da Polícia Militar, os prisioneiros foram postos nus no chão, sofreram agressões e ficaram sob a ameaça de metralhadora. Em seguida, foram levados para a OBAN (Operação Bandeirantes), “[…] onde estava todo o pessoal que tinha sido preso no Vale do Ribeira, da VPR, da guerrilha, e por isso, estava muito cheio. E o pau comendo” segundo Geraldo Siqueira, que era da célula do PORT que Hansen chefiava, e também foi preso com panfletos.
Conduzido à sala de torturas, Olavo Hansen foi obrigado a se despir e sofreu queimaduras com cigarros e charutos, choques elétricos oriundos do tubo de imagem de um televisor, palmatória nos pés e nas mãos, espancamentos, pau de arara e afogamentos. No dia 5, os outros presos políticos passaram a exigir que lhe fosse dada assistência médica, o que só foi realizado no dia 6. Além dos ferimentos visíveis por todo o corpo, apresentava sinais evidentes de complicações renais, anúria e edema das pernas, próprios de combatentes de guerra.
O médico Geraldo Ciscato, lotado no DEOPS/SP, prestou apenas cuidados superficiais. Os outros presos voltaram a exigir uma assistência efetiva, mas somente no dia 8, quando Hansen tinha entrado em coma, Ciscato retornou e determinou que ele fosse levado para um hospital. Foi levado para o Hospital do Exército, em Cambuci, onde faleceu no dia 9].
A polícia pretendeu que seu corpo teria sido encontrado em 9 de maio num terreno baldio no Ipiranga. Em 13 de maio, a família foi informada de que ele teria se suicidado no dia 9 de maio de 1970.
Os presos políticos Vitório Chinaglia, Raphael Martinelli, Patrocínio Henrique dos Santos, Maurice Politi, Dulce Moniz, Gilberto Beloque, Sonia Hipólito, Tarcísio Sigristi, Marco Antônio Moro, Bety Chachamovith, Carlos Russo Jr., Waldemar Tebaldi Filho, José Claudio Barighelli, Norma Freire, Humberto Veliame, Fernando Casadei Salles, João Manoel de Souza, Maria do Carmo e outros, que testemunharam a prisão e o martírio de Hansen, apontaram como responsáveis pelo assassinato o “delegado Ernesto Milton Dias e [o] delegado Josecyr Cuoco, com suas respectivas equipes, sob o comando do investigador Sálvio Fernandes do Monte e, ainda, a colaboração do médico Geraldo Ciscato”
Com Histórica, revista do Arquivo Publico de Sao Paulo.
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