CIA desmascara Geisel: general controlava execuções de adversários da ditadura
O documento é devastador em relação a Figueiredo porque mostra que Figueiredo era o responsável por autorizar esses assassinatos. Geisel é o presidente da abertura, mas o que a gente sabe agora, graças a esse documento e a outros, é que, durante o processo de abertura, o regime militar continuou usando a execução de inimigos do regime como política oficial
Um memorando de um diretor da CIA para o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, afirma que o ex-ditador do Brasil Ernesto Geisel autorizou a continuidade das execuções de adversários da ditadura.
O documento descreve uma reunião de março de 1974 entre Geisel e três assessores: o general que deixava o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que assumiria o posto e o general João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos. Após pedir um tempo para pensar, Geisel autoriza Figueiredo a manter as execuções – mas “apenas subversivos perigosos” cujos nomes deveriam ser aprovados por Figueiredo.
O memorando foi descoberto pelo professor de Relações Internacionais da FGV Matias Spektor. “De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?”, questiona Spektor. “Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa
O texto completo pode ser visto, em inglês, no site do Departamento de Estado dos EUA.
Memorando do diretor da Agência Central de Inteligência Colby para o secretário de Estado Kissinger
Washington, 11 de abril de 1974.
Assunto: Decisão do presidente brasileiro Ernesto Geisel de continuar a execução sumária de subversivos perigosos sob certas condições
1. [1 parágrafo (7 linhas) não desclassificado]
2. Em 30 de março de 1974, reuniu-se presidente do Brasil, Ernesto Geisel, com o general Milton Tavares de Souza (chamado de general Milton) e o general Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente o chefe que sai e o que entra do Centro de Informações do Exército (CIE). Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
3. O general Milton, que falou durante a maior parte do tempo, detalhou o trabalho da CIE contra os alvos subversivos internos durante a administração do ex-presidente Emilio Garrastazu Médici. Ele ressaltou que o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista, e que os métodos extralegais devem continuar sendo usados contra subversivos perigosos. A este respeito, o general Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE durante o ano passado, ou pouco antes. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade.
4. O presidente, que comentou sobre a seriedade e os aspectos potencialmente prejudiciais desta política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana antes de chegar a qualquer decisão sobre sua continuidade. Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados. O presidente e o general Figueiredo concordaram que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a pessoa seja executada. O presidente e o general Figueiredo também concordaram que o CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o esforço geral do CIE será coordenado pelo General Figueiredo.
5. [1 parágrafo (12½ linhas) não desclassificado]
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