DOPS dos Estados Forças Armadas PC do B

CONTROLE DO PC DO PELOS ÓRGÃOS DE REPRESSÃO DA DITADURA

Documento

Ministério

da Guerra

I exercito 4º RM 4º DI

ID/4

Belo Horizonte 8 outubro de 1965

e Documento da Coordenação de Informações 12/12/1969

O que foi a guerrilha do Araguaia?

Foi uma grande epopéia de luta pela liberdade e pela democracia em nossa pátria. A Guerrilha do
Araguaia ocorreu no início da década de 70. Uma batalha desigual entre combatentes
revolucionários e as forças de repressão do regime reacionário imposto ao país com o golpe de
1964. Mesmo atualmente é difícil conseguir informações sobre o confronto ocorrido no Sul do
Pará a partir de um ataque do Exército em 12 de abril de 1972 – “o único movimento rural armado
contra o regime militar – cujo combate mobilizou o maior número de tropas brasileiras desde a II
Guerra Mundial”, conforme uma série de reportagens publicada por O Globo entre abril e maio de
1996.
A Guerrilha do Araguaia só foi oficialmente reconhecida mais de vinte anos depois de ocorrida,
quando foram revelados extratos de um relatório militar comprovando a morte de dois guerrilheiros,
Idalísio Aranha Filho e Bergson Furjão de Farias, em dezembro de 1992. O general Hugo de
Abreu, que participou das operações contra os moradores do Araguaia, chegou a afirmar que essa
foi a luta mais importante já realizada no meio rural.
Dos 69 militantes do Partido Comunista do Brasil que estavam na área, 59 morreram no conflito,
além de moradores da região também assassinados e das baixas das Forças Armadas – as
estimativas variam entre quatro e 200 (!) militares mortos. Do lado do governo, segundo O Globo,
houve “casos de militares mortos no combate à Guerrilha cujos corpos foram entregues às famílias
em caixões lacrados, acompanhados da explicação de que a morte ocorrera por acidente durante
uma manobra de treinamento”.
As Forças Armadas desencadearam três campanhas militares contra a Guerrilha. A partir da
terceira campanha, os próprios militares passaram a se referir às operações que desenvolviam
como “guerra suja”. “Os guerrilheiros não se tornariam prisioneiros de guerra. Simplesmente
deixariam de existir. Todos, com a exceção de Ângelo Arroyo, que escapou, foram mortos. São
muitas as denúncias de tortura”, reporta O Globo. Os oficiais do Exército avaliavam que a
Guerrilha do Araguaia duraria décadas, caso não fosse combatida da forma criminosa que foi:
“Mesmo os oficiais condecorados por bravura na repressão à Guerrilha evitam falar no assunto. Ao
contrário dos militares que lutaram na II Guerra Mundial, que exibem com orgulho as medalhas que
conquistaram na luta contra o nazifascismo, os heróis das Forças Armadas no Araguaia são
discretos. Afinal, como justificar as condecorações numa guerra que, oficialmente, não houve?”
Alguns guerrilheiros, como o Osvaldão, foram decapitados. A prática de decepar a cabeça de
adversários não é nova na história da repressão no Brasil. Zumbi teve a cabeça exibida em Recife,
como forma de intimidar escravos que pudessem seguir seu exemplo rebelde. Tiradentes, depois de
enforcado, foi esquartejado e a cabeça e os membros foram expostos aos brasileiros. Lampião e
seus seguidores mais próximos igualmente tiveram as cabeças separadas dos corpos e exibidas
(neste caso, ficaram expostas num museu em Alagoas)
Em 1964 implantou-se no país uma ditadura militar que se voltou raivosamente contra os
brasileiros. As liberdades foram brutalmente suprimidas e a atividade política, rigorosamente
controlada, limitava-se a dois partidos, a Arena e o MDB. Instaurou-se um regime de perseguição
aos democratas conseqüentes. O povo brasileiro promoveu inúmeras manifestações de protestos
contra a tirania que se instalara no país. Uma dessas manifestações foi a grande passeata dos cem
mil, que condenava a morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro.

Os militares responderam a esses atos com uma brutalidade nunca vista, torturas infames,
assassinatos de presos políticos nos Dops e nos DOI-Codi. As greves foram proibidas e os
sindicatos interditados. Com o Ato Institucional n° 5 impôs-se um regime de terror contra o povo.
É nesse ambiente que surgiu o Araguaia, organizado e dirigido na clandestinidade pelo Partido
Comunista do Brasil. Destinava-se a organizar a resistência armada contra a ditadura. Outras
formas de luta não tinham espaço para se concretizar nas cidades. O objetivo político da Guerrilha
do Araguaia estava expresso em um documento, largamente distribuído entre a população do Sul
do Pará, intitulado Proclamação da União pela Liberdade e Pelos Direitos do Povo. Um
movimento intimamente ligado à população camponesa, pobre e sofrida da região. Tentativas de
resistências armadas já haviam ocorrido no país, organizadas por outras correntes políticas, no
Vale da Ribeira e em Caparaó. Mas duraram pouco tempo. O Araguaia resistiu por três anos.
No Araguaia encontravam-se pessoas de diferentes formações: operários, camponeses, bancários,
médicos, engenheiros, geólogos e, principalmente, estudantes universitários. Dentre os que para lá
se dirigiram, estava Maurício Grabois, constituinte de 1946. Tomaram conhecimento da região e
estabeleceram ampla relação com a população local. Enfrentavam, porém, tremenda desigualdade
no que diz respeito ao armamento, em contraste com as armas sofisticadas das Forças Armadas.
Essa luta era a luta de cem contra vinte mil, Davi contra Golias.
As Forças Armadas atuaram no Araguaia como bárbaros. Cometeram crimes imperdoáveis.
Degolaram guerrilheiros, expuseram corpos mutilados nas vilas e nas cidades para atemorizar a
população. Violentaram as próprias leis de guerra (a convenção de Genebra). Mataram prisioneiros
indefesos. Torturaram – muitos dos torturados enlouqueceram. As Forças Armadas destruíram
tudo que podia lembrar a Guerrilha. Incendiaram os barracos construídos pelos guerrilheiros.
Destruíram até os móveis primitivos que eles haviam improvisado. Aplicaram a política de terra
arrasada, de não deixar vivo nenhum dos combatentes. Foi assim que acabaram matando Ângelo
Arroyo, um dos comandantes da guerrilha, um ano e meio depois de terminada a luta, na Chacina
da Lapa, em 1976.
A Guerrilha do Araguaia é mais um elo na longa cadeia das gloriosas lutas populares do Brasil. São
muitos os exemplos: Cabanagem, Guararapes, Canudos, Contestado, Revolta da Chibata,
Quilombo dos Palmares, Revolução dos Alfaiates… Esses movimentos sempre enfrentaram em
desvantagem o adversário poderoso e arrogante.
Nas Forças Armadas havia setores que condenavam as barbaridades cometidas – pois elas são
instituição paga com o dinheiro do povo, não podem tê-lo como inimigo principal. É necessário que
essas Forças repudiem tais crimes, condição para que possam contar com a simpatia do povo,
preparando-se para as grandes batalhas que poderão advir em defesa da soberania e da independência da Pátria.

(Documento do PC do B)

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2 comentários

  1. Manoel Rosa da cruz diz:

    Eu fico até irritado quando leio ou pesquízo o golpe de 1964,eu tinha 18 anos e assisti todos os horrores praticados por esses generais sem etnia de pátria Brasil,sempre liguei o golpe militar as atitudes tomadas nas mesma época por Stalin na União Soviética ,altos militares Americanos opinaram que nosso regime era um Xerox do regime comunista Russo/ Soviético,por isso sempre faço uma pergunta afinal se nossos militares eram comunistas verdadeiros então que representavam afinal os partidos comunistas do Brasil , a quem estes serviam ?? Estariam nossos militares criando um regime de terceira via pois existia ,Soviéticos e ,Mauistas ,Chineses,e então o Brasílico ?? Preciso de ajuda para terminar meu trabalho sobre o assunto….!!!

  2. Francisco diz:

    Eu era criança, nasci em 1963, nos anos 70 eu morava no nordeste na cidade de Mossoró – RN, então eu não percebi a gravidade dos fatos, vejo a grande mídia colocando os revolucionários como vítima; penso que numa “guerra” morre muitos inocentes mas:
    -Será que os revolucionários são inocentes, eles só morrerão, ou também mataram?
    -A quem interessava realmente a revolução, Cuba, Rússia?
    -E o golpe militar, aos Estados Unidos?
    -Se os comunistas tivesse conseguido tomar o país pela força, viveríamos hoje no regime ditatorial de Fidel Castro, e quem seria os torturados?
    -Como seria o nosso país hoje, igual a Rússia, Cuba, ou Coreia do Norte?
    -Será que existe ditadura nos países acima e, Já morreu ou morre gente vítima da ditadura nesses países?
    Com todo respeito, mas são interrogações que não saem da minha cabeça.

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