Geral

Relatório de campana em cima de Celso Ferreira Araújo

MINISTÉRIO DO EXÉRCITO

QUARTEL GENEAL

DIVISÃO DE SEGURANÇA

CELSO FERREIRA ARAÚJO

CTAEN

COMEAB-4/CISA RJ/DR/I

II EXERCITO 6 DN

2 DI E IB

INFORME 018/CTA/70

11DEZ1970

ACERVO ARQUIVO NACIONAL – COREG DF

No dia 23 de janeiro de 1969, quatro militantes da VPR trabalhavam nos fundos de um sítio em Itapecerica da Serra. Estavam pintando um caminhão com as do Exército.
De repente, os homens se tocaram que um moleque da vizinhança estava xeretando por ali. Ao invés de ganhar a confiança do pivete, deram-lhe um pito.  O pirralho teve a reação esperada de um fedelho (“vô contá tudo pro meu pai”). Eram anos de chumbo e de delações. O pai do menino ficou cabreiro com aqueles caras pintando caminhão no meio do mato. Dedurou o fato para a Polícia. Fazia só 41 dias que o regime militar havia decretado o AI-5.
Os quatro foram levados para o quartel da Polícia do Exército (PE), no Ibirapuera, e torturados por militares e por policiais civis. O que mais apanhava era Pedro Lobo de Oliveira, ex-sargento da Força Pública (hoje Polícia Militar): “Primeiro me bateram muito no pau-de-arara. Depois ficaram injetando salmoura pelo meu nariz”.

O desespero e a crueldade dos torturadores era para arrancar rapidamente dos prisioneiros por quê estavam pintando o caminhão com as cores do Exército. Os mastins da ditadura farejaram coisa grande por trás daquilo.

Enlouquecido com a resistência dos rebeldes, o major Jayme Henrique Antunes Lameira, comandante da 2ª Companhia da PE, teve um surto: “Vou ocupar Itapecerica da Serra com minha tropa”. Seus superiores lhe negaram autorização. Injuriado, Lameira procurou ajuda de um colega de patente, o major Inocêncio Fabrício de Matos Beltrão, que emprestou a ele os blindados que comandava no 2º Regimento de Reconhecimento Mecanizado. Bem articulado na sua ira contra a guerrilha, Lameira ainda descolou o apoio de dois helicópteros.

Pela terra e pelo ar

Quem vê Itapecerica da Serra meio que pacata até hoje, pode imaginar o reboliço por ali com a chegada dos comandados do major Lameira na 6ª-feira 24 de janeiro de 1969. Soldados se embrenharam pelo município. Ruas foram sulcadas pelos blindados. E lá no alto o rugido vigilante dos helicópteros.

Mas, foi a Guarda Civil quem achou armamento militar dentro de um Fusca. Aquele carrinho abandonado também guardava um rude golpe contra a luta armada da esquerda. Os meganhas encontraram no veículo um recibo com um nome e um endereço. Quando leu aquilo, o major Lameira matutou: “O nome desse cara não me é estranho…”

Já eram 2h30 da madrugada do sábado 25 de janeiro de 1969 quando Lameira acordou seus superiores na 2ª Divisão de Exército. Com a indolência típica de um funcionário público, um general empurrou o assunto com a barriga: “Na 2ª-feira a gente resolve tudo isto”.

O nome e o endereço escritos no recibo eram de Carlos Lamarca, capitão do 4º Regimento de Infantaria, em Osasco. Já que o general não queria trabalhar no final de semana, Lamarca aproveitou a brecha para dar no pé.

Poucas horas depois de ser caguetado por Lameira, o capitão Lamarca fugiu do quartel de Quitauna na sua Kombi com um sargento, um cabo e um soldado. Sumiram no oco da noite com 63 fuzis, três submetralhadoras e uma pistola calibre 45.
(Com O Tabuanense, David da Silva)

 

 

2 DI E IB

INFORME 018/CTA/70

11DEZ1970

 

 

No dia 23 de janeiro de 1969, quatro militantes da VPR trabalhavam nos fundos de um sítio em Itapecerica da Serra. Estavam pintando um caminhão com as do Exército.

De repente, os homens se tocaram que um moleque da vizinhança estava xeretando por ali. Ao invés de ganhar a confiança do pivete, deram-lhe um pito.  O pirralho teve a reação esperada de um fedelho (“vô contá tudo pro meu pai”). Eram anos de chumbo e de delações. O pai do menino ficou cabreiro com aqueles caras pintando caminhão no meio do mato. Dedurou o fato para a Polícia. Fazia só 41 dias que o regime militar havia decretado o AI-5.
Os quatro foram levados para o quartel da Polícia do Exército (PE), no Ibirapuera, e torturados por militares e por policiais civis. O que mais apanhava era Pedro Lobo de Oliveira, ex-sargento da Força Pública (hoje Polícia Militar): “Primeiro me bateram muito no pau-de-arara. Depois ficaram injetando salmoura pelo meu nariz”.

O desespero e a crueldade dos torturadores era para arrancar rapidamente dos prisioneiros por quê estavam pintando o caminhão com as cores do Exército. Os mastins da ditadura farejaram coisa grande por trás daquilo.

Enlouquecido com a resistência dos rebeldes, o major Jayme Henrique Antunes Lameira, comandante da 2ª Companhia da PE, teve um surto: “Vou ocupar Itapecerica da Serra com minha tropa”. Seus superiores lhe negaram autorização. Injuriado, Lameira procurou ajuda de um colega de patente, o major Inocêncio Fabrício de Matos Beltrão, que emprestou a ele os blindados que comandava no 2º Regimento de Reconhecimento Mecanizado. Bem articulado na sua ira contra a guerrilha, Lameira ainda descolou o apoio de dois helicópteros.

Pela terra e pelo ar

Quem vê Itapecerica da Serra meio que pacata até hoje, pode imaginar o reboliço por ali com a chegada dos comandados do major Lameira na 6ª-feira 24 de janeiro de 1969. Soldados se embrenharam pelo município. Ruas foram sulcadas pelos blindados. E lá no alto o rugido vigilante dos helicópteros.

Mas, foi a Guarda Civil quem achou armamento militar dentro de um Fusca. Aquele carrinho abandonado também guardava um rude golpe contra a luta armada da esquerda. Os meganhas encontraram no veículo um recibo com um nome e um endereço. Quando leu aquilo, o major Lameira matutou: “O nome desse cara não me é estranho…”

Já eram 2h30 da madrugada do sábado 25 de janeiro de 1969 quando Lameira acordou seus superiores na 2ª Divisão de Exército. Com a indolência típica de um funcionário público, um general empurrou o assunto com a barriga: “Na 2ª-feira a gente resolve tudo isto”.

O nome e o endereço escritos no recibo eram de Carlos Lamarca, capitão do 4º Regimento de Infantaria, em Osasco. Já que o general não queria trabalhar no final de semana, Lamarca aproveitou a brecha para dar no pé.

Poucas horas depois de ser caguetado por Lameira, o capitão Lamarca fugiu do quartel de Quitauna na sua Kombi com um sargento, um cabo e um soldado. Sumiram no oco da noite com 63 fuzis, três submetralhadoras e uma pistola calibre 45.
(Com O Tabuanense, David da Silva)

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