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Sarcástico e ironia na letra de “Deus Lhe Pague, uma crítica certeira de Chico Buarque à ditadura militar

Letra da música Deus lhe Pague , de Chico Buarque, censurada em 1971.

No canto da página e escrito à mão , ao lado do carimbo VETADO , diz o parecer do censor:

“Por parecer um recado com duplicidade de sentido, que tanto pode ser  dirigido a alguém ou algo abstrato”

Realmente , Chico Buarque, naquele ambiente de ditadura  foi irônico e sarcástico em sua crítica

A primeira estrofe reconhece as necessidades básicas da vida: comida, abrigo e a oportunidade de nascer e sorrir. A frase “Deus lhe pague” é repetida ao longo da música, servindo como uma expressão sarcástica de gratidão por esses aspectos fundamentais da vida que deveriam ser fornecidos a todos os seres humanos sem questionamento.

Na segunda estrofe, a música continua com uma mistura de gratidão e ironia. Ela menciona o prazer em derramar lágrimas, a camaradagem nos bares, a paixão pelo futebol, os crimes que geram conversas e a distração da música de samba. Esses elementos da vida, embora tragam alegrias e distrações, também são retratados como triviais e insatisfatórios.

A terceira estrofe foca na natureza transitória do amor, nos belos momentos dos domingos cheios de atividades de lazer como romances, missas e quadrinhos. Também menciona o contexto específico do cenário da música (possivelmente Rio de Janeiro) ao fazer referência às mulheres locais e ao prazer de encontros românticos casuais e fugazes.

A quarta estrofe introduz um tom mais crítico. Ela expressa frustração com a necessidade de beber álcool, a poluição que inalamos e os riscos e acidentes associados ao trabalho de construção. A frase “Deus lhe pague” assume um tom mais amargo e ressentido, implicando que esses aspectos negativos da vida não devem ser aceitos.

A quinta estrofe retrata as lutas da existência diária, o ranger de dentes, o barulho caótico da cidade e o grito desesperado por ajuda que paradoxalmente ajuda a escapar da realidade. Ela transmite um senso de cansaço e resignação em relação às dificuldades que enfrentamos.

A estrofe final introduz um toque de humor negro. Ela menciona os chorões contratados que nos elogiam e criticam, as moscas que nos rodeiam tanto na vida quanto na morte e a paz elusiva que um dia pode nos redimir. A música termina com um sentimento ambíguo, deixando a interpretação da redenção final aberta ao ouvinte.

No geral, “Deus Lhe Pague” retrata uma paisagem emocional complexa, mesclando gratidão com crítica, ironia com sinceridade. Ela serve como uma contemplação das contradições da vida e das maneiras pelas quais navegamos por seus desafios e alegrias.

 

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