Informes confidenciais preparados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e que estiveram guardados por quase meio século de forma sigilosa em Genebra, revelam o estado deplorável dos indígenas brasileiros e denunciam que boa parte deles viviam em miséria profunda e trabalhando como escravos para os fazendeiros
Ainda, de acordo com os informes, alguns povos passaram a praticar abortos diante da constatação de famílias de que não teriam como garantir a sobrevivência da nova geração.
Essa investigação ocorreu após o Comitê Internacional da Cruz Vermelha ter recebido diversas denúncias sobre a situação em que se encontravam os indígenas no Brasil .
Os alertas para a entidade começaram a chegar na primeira metade ainda dos anos 60, com especialistas europeus denunciando a crise. Os capítulos nacionais da Cruz Vermelha na Alemanha e nos países nórdicos também pressionaram e indicaram que estavam dispostos a financiar uma ação na Amazônia. Mas o CICV levaria anos para agir. Primeiro, por alegar que jamais tomaram uma iniciativa similar. Quando optou por se lançar na operação, já em 1969, teve então de superar a resistência do governo brasileiro.
O então ministro do Interior, general Costa Cavalcanti, negou permissão para o trabalho da Cruz Vermelha alegando que não havia nenhum problema que afetasse os indígenas.
Graças a pressão internacional a ditadura cedeu e a entidade foi a primeira organização internacional a sair ao resgate dos índios da Amazônia, num momento que jornais e especialistas estrangeiros apontavam para um “genocídio” na floresta brasileira.