Nos anos 1970, em plena ditadura, o país enfrentou uma grave epidemia de meningite que superlotou hospitais, cancelou eventos e fez com que muitos brasileiros perdessem a vida. Mesmo ciente da gravidade do problema, o então governo militar atuou para proibir a divulgação dos números oficiais de casos e mortes —até hoje não se sabe a quantidade exata de casos e mortes pela doença naquela década.
Documentos do Arquivo Nacional mostram como o regime militar atuou não só para censurar os veículos de comunicação, como também espionou, perseguiu e até deu ordens para que pessoas que estavam informando a população sobre a doença fossem investigadas. Segundo os papéis confidenciais, o regime aparentava ter dois objetivos: não causar alarme à população e, principalmente, não ferir a imagem do governo em plena época do “milagre econômico.
A gravidade do problema, entretanto, era conhecida da cúpula do governo. Em um informe de 31 de julho de 1974, o SNI (Serviço Nacional de Informações) comunicou ao então presidente, o general Ernesto Geisel, que a epidemia teria começado com um surto em Osasco (na Grande São Paulo) e se alastrado pelo país causando graves problemas. “Sabe-se de sobejo que o alastramento do mal encontra campo propício nos aglomerados populacionais, nos ambientes de pouca higiene e na estação invernal. Nessas condições a cidade de São Paulo é um meio ambiente ideal, sabendo-se que a cidade não é servida de esgotos em dois terços de sua área e 50% da população não é servida por rede de água.
O informe ainda explicitou que, se não fossem tomadas medidas preventivas em São Paulo, “pode-se prever que anualmente a cidade será atormentada pela incidência dessa doença”. Entretanto, alerta também que isso “terá reflexos negativos no curso da campanha eleitoral que agora se inicial.” Diante da constatação, e com a eleição daquele ano, o documento finaliza dizendo que o momento político poderia ser desestabilizado por oposicionistas, padres progressistas e imprensa gerando “sérios inconvenientes à política do governo federal.
Radiograma ordenou veto Apesar da ciência da gravidade, o governo manteve durante quase todo período uma proibição da divulgação dos dados. Um outro documento recuperado do Arquivo Nacional, é de um radiograma do dia 30 de julho 1974 em que o então diretor da Polícia Federal, Moacyr Coelho, diz que deve ser seguida a ordem de manter proibida a divulgação de “dados numéricos e gráficos sobre meningite.”
Est circular na verdade é de 30/7/1972. A Epidemia eclodiu no inverno de 1972 e com o descontrole foi censurada a divulgação e a implementação das medidas sanitárias para não prejudicar o grande desfile militar programado para o 7 de setembro – o famoso Sesquicentenário da Independência. Sei bem por que em no mês de Agosto/72 fiz o estágio de Moléstias Infecciosas no Hosp. Emilio Ribas e foi uma loucura: os pacientes vinham em Kombis, caminhões, se amontoavam nas salas e faziamos as punções às vezes até sem luvas!!! Milhares de pessoas morreram ou ficaram com graves seqüelas. NADA FOI DIVULGADO ATÉ DEPOIS DO DESFILE!!!
Oi José Roberto Passos, me chamo Lígia Maria de Andrade e estou pesquisando sobre a epidemia de meningite da década de 1970. Vi que você fala com propriedade sobre o assunto, como alguém que conhece a fundo aquela realidade. Se você puder me ajudar na coleta de dados serei imensamente grata.