A St. John del Rey Mining Company escreve ao ministro do trabalho, Agamenon de Magalhães, avisando que demitirá associados do Sindicato de Nova Lima sob alegação de serem eles ligados aos comunistas e terem apoiado a Aliança Nacional Libertadora.
O ministro do trabalho pede um parecer ao chefe de polícia do Distrito Federal, Filinto Müller – aquele mesmo que mandou Olga Benário para um campo de concentração na Alemanha. A polícia do DF, mesmo não tendo jurisdição em Minas Gerais, responde positivamente sobre o perigo representado pelos trabalhadores.
Essa atitude da empresa e os desdobramentos da demissão dos operários (muitos deles dirigentes sindicais que perderam emprego) está em um processo do MTE guardado no Arquivo Nacional.
No relatório da Comissão Nacional da Verdade não conhecíamos o início dessa história, por isso é ressaltado o ato bárbaro contra os trabalhadores de Nova Lima, quando em 1964 o Exército e a polícia prendem mais de 400 pessoas, resultando num inquérito com mais de 200 envolvidos, naturalmente para destruir a resistência daqueles mineiros.
Dazinho, dirigentes deles, era deputado estadual e foi cassado junto a Sinval Bambirra e Clodesmidt Riani, em 07 de abril de 1964, por unanimidade na Assembleia Legislativa de MG.
Os operários de Nova Lima, perseguidos desde a década de 30, tiveram vários enfrentamentos, assassinatos misteriosos, demissões em massa, como o chamado “Grupo dos 51” e, quando finalmente chega 64, a empresa e os militares fizeram a limpeza com um processo que se arrastou por anos e a prisão de dezenas deles por muito tempo.
Talvez Nova Lima seja um dos casos mais exemplares de perseguição durante tantas décadas. Temos agora a oportunidade de evidenciar os mecanismos dessa tentativa de vigilância, controle e repressão contra àqueles que lutam.
Em tempo, tem um bairro em Nova Lima chamado Cemitério. Na inundação de uma galeria, os mineiros foram simplesmente abandonados ali e depois a entrada da mina foi lacrada. Simples assim. Reparem bem com quem estamos tratando.
O documento anexo é de 23 de março de 1936 e trata-se da segunda página do longo inquérito que se desenrolou durante anos sob o controle e supervisão do Ministério do Trabalho.
Para saber mais:
Dazinho, um cristão nas minas de Michel Le Ven
Tatuagens na Alma de Tarcísio Delgado
Relatório do GT dos Trabalhadores da Comissão Nacional da Verdade
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