É verdade que, desde a fuga de casa, aos 11 anos, Tony não fez outra coisa senão aproveitar cada oportunidade que a vida lhe ofereceu. Foi engraxate, paraquedista no Exército, cover de rockeiros e até cafetão no Harlem, nos Estados Unidos. Mas a real mudança veio em 1970, quando participou do Festival Internacional da Canção e saiu vencedor, ao lado do Trio Ternura, com a canção BR-3, de autoria dos compositores Tibério Gaspar e Antônio Adolfo.
“É o hino. É um marco. É a estrada da vida. ‘A gente corre e a gente morre na BR-3’”, repete a letra. Tony reafirma que a música
tratava apenas do perigo da rodovia, atualmente BR-040, que liga Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Uma história circulou na época e acabou virando lenda: ‘BR-3’ seria a terceira veia, e ‘Jesus Cristo feito em aço’ a agulha, referindo-se à aplicação de heroína. “Coisa dos militares. Estavam desesperados”, explica.
No ano seguinte, no mesmo festival, o entusiasmo acabou traindo-o. Durante a defesa de Black is beautiful por Elis Regina (1945-1982), ele subiu no palco e fez o sinal black power, do grupo revolucionário americano Panteras Negras. Mal abaixou as mãos e já estava algemado. E assim, saiu preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Maracanãzinho, a despeito dos gritos da cantora. “Quando ela disse que ‘eu quero um homem de cor’, eu falei: ‘sou eu. Só pode ser eu’. Empolguei-me”, lembra.
Tony diz que o gesto não foi algo premeditado: “Deu vontade na hora”. Ele diz ter encarnado os ativistas negros Stokely Carmichael ou James Baldwin. “Vou levantar o punho como haviam levantado os atletas nas Olimpíadas”, lembra. O cantor havia chegado dos Estados Unidos e ainda carregava consigo resquícios do movimento pelos direitos civis raciais que marcaram a década de 1960.
Shirley Pacelli