Em mensagem enviada às embaixadas norte-americanas do Rio de Janeiro e de Brasília no dia 16 de outubro de 1968, o cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Robert Corrigan, defendeu a tomada de ações mais incisivas com o intuito de “persuadir” o governo brasileiro a capturar o dirigente comunista Carlos Marighella.
Nas últimas linhas do telegrama às embaixadas, Corrigan sobe o tom e faz uma sugestão enfática: “Para cunhar uma frase, o momento é propício e a hora passa. Que tal oferecer recompensa?” A mensagem consta de documentos classificados como secretos pela diplomacia norte-americana, e só agora detalhados, e evidencia a intenção do governo americano de pressionar os órgãos de segurança brasileiros no combate à guerrilha urbana.
A proposta de recompensa foi despachada quatro dias após a morte do capitão do Exército americano Charles Rodney Chandler. Veterano da guerra do Vietnã e residente na capital paulista, o militar era acusado ela Resistência à ditadura militar de atuar pela Agência Central de Inteligência norte-americana, a CIA
No telegrama, ele criticou os esforços “dispersos e ineficazes” dos órgãos de segurança brasileiros. A morte de Chandler, segundo ele, oferecia “causa justificável para pressão” sobre o governo militar para “tirar de ação” Marighella e seus companheiros. Dois dias depois, em 18 de outubro, em uma nova mensagem enviada à Embaixada no Rio – e que depois seria encaminhada ao Departamento de Estado, em Washington –, Corrigan vaticinou que a polícia só chegaria aos culpados com a ajuda de um golpe de sorte ou de informantes. Em seguida, fez uma proposta a seus pares: “Com o intuito motivar tais informantes e de fato para manter a polícia de São Paulo trabalhando nós sugerimos recompensa seja oferecida de aproximadamente 5.000 dólares
.”