Informe da Aeronáutica sobre Matilde Urrutia (viúva de Pablo Neruda) no Brasil (1974)

O documento trata-se de um informe de 1974, produzido pelo Ministério da Aeronáutica durante a ditadura militar brasileira, tratando da presença de Matilde Urrutia, viúva de Pablo Neruda, no Brasil. O texto aponta que ela estava hospedada na casa de Jorge Amado, escritor de relevância internacional, e descreve sua estadia como associada a contatos editoriais para a publicação de obras do poeta chileno. Além disso, menciona a tradução feita por Olga Savary e o projeto de publicação das memórias de Neruda, vinculando essas iniciativas a uma possível estratégia de difusão ideológica.

A análise do documento revela o caráter de vigilância política e cultural praticado pelos órgãos de segurança do regime militar. A visita da viúva é interpretada não como um evento pessoal ou cultural, mas como uma ameaça ideológica ligada ao fortalecimento do comunismo internacional na América Latina. O informe sugere que a circulação de livros, poemas e discursos poderia exercer um papel de propaganda subliminar e de aliciamento de setores sociais jovens, o que demonstra a preocupação das autoridades com o poder simbólico da literatura e da arte.

Por fim, o documento também destaca a figura de Jorge Amado, situando-o no contexto de disputas políticas e culturais internacionais. O texto o apresenta como alguém que, em razão de sua ligação com Neruda e sua trajetória política, estaria envolvido na promoção de valores ligados ao Partido Comunista Internacional. Assim, o informe não apenas informa sobre a presença de Matilde Urrutia, mas também busca enquadrar as atividades literárias e culturais como parte de uma rede de propaganda comunista, revelando a lógica de suspeição e repressão cultural típica da ditadura militar brasileira.