No dia 27 de maio de 1969 um crime chocou a cidade do Recife. A morte brutal do padre Henrique, pelos repressores da ditadura militar brasileira. Padre Henrique fora indicado pelo Arcebispo de Recife e Olinda, Dom Hélder Câmara (que este ano completaria 100 anos) para coordenar a Pastoral da Juventude.
O padre, que já vinha sendo ameaçado pelo chamado CCC (Comando de Caça aos Comunistas), grupo de repressão da época obscura da ditadura militar, fora sequestrado e brutalmente assassinado naquela famigerada noite de 27 de maio de 1969. O corpo de padre Henrique fora encontrado na manhã seguinte, no bairro do Engenho do Meio, com sinais de tortura e a cabeça marcada por facadas e tiros.
O crime contra o padre Henrique abateu a cidade, e mobilizou cerca de 20.000 pessoas em seu cortejo.
O Padre Antonio Henrique Pereira Neto, conhecido como Padre Henrique, nasceu no Recife, no dia 28 de outubro de 1940, filho de José Henrique Pereira da Silva Neto e Isaíras Pereira da Silva.
Sociólogo e professor, desenvolveu atividades junto ao então Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Ensinou no Juvenato Dom Vital, na Cúria Metropolitana do Recife, nos colégios Marista, Nóbrega e Vera Cruz, na Escola Técnica do Derby e na Faculdade de Ciências Sociais.
Ordenou-se em 1965, na Igreja da Torre, e dedicou-se ao trabalho de orientação a jovens, na Arquidiocese de Olinda e Recife. Padre Henrique além de prestar assistência à juventude, manteve contato com estudantes cassados e era claramente contrário aos métodos de repressão utilizados pela ditadura militar. Em várias ocasiões, recebeu ameaças de morte, através de ligações telefônicas procedentes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Mesmo com as ameaças, Padre Henrique não se deixou intimidar e continuou desenvolvendo suas atividades, vindo por isso a pagar com a própria vida.
Na noite do dia 26 de maio de 1969, então com 28 anos de idade, Padre Henrique foi seqüestrado depois de participar de uma reunião com um grupo de jovens católicos, no bairro de Parnamirim. No dia seguinte, foi encontrado morto com marcas de tortura em um matagal na Cidade Universitária.
O assassinato do Padre Henrique causou uma comoção geral. Milhares de pessoas, exibindo faixas e cartazes, acompanharam o enterro que se transformou em manifestação pública contra a ditadura militar e seus órgãos de repressão diretamente responsabilizados pelo crime. As investigações nunca chegaram a uma conclusão definitiva por causa do envolvimento dos assassinos com o regime dominante. O processo controverso e volumoso foi arquivado e reaberto inúmeras vezes, sem que nada ficasse esclarecido até a prescrição do crime.
Segundo Dona Isaíras Pereira da Silva, mãe do Padre Henrique, em declaração feita ao Jornal do Commercio, Recife, em 24 de julho de 1981, depois do assassinato do seu filho, começaram as perseguições a sua família. Seu filho Adolfo, que havia sido aprovado em concurso da Polícia Militar, foi preso sob a acusação de roubo de imagem sacra; Henrique, (outro filho) seminarista, também acusado de subversivo foi morar no exterior; o quarto filho viveu com nome falso para se livrar da prisão. O pai do Padre Henrique não agüentou as pressões e, emocionalmente abalado, morreu em decorrência de problemas cardíacos.
No Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) de Pernambuco não há nenhum registro sobre o Padre Henrique, antes da sua morte. Os arquivos começam com o laudo técnico do Instituto de Polícia Técnica do Estado sobre o seu assassinato.
Recife, 31 de julho de 2008.
(Atualizado em 14 de setembro de 2009).
(do site Fórum de Entidades Nacionais de Direitoss Humanos)