Manual da repressão militar sobre violação de domicílios da Resistência à ditadura

O documento intitulado “Estouro de aparelhos” é um relatório produzido pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) ou algum órgão correlato de repressão durante a ditadura militar brasileira. A expressão “aparelho”, no jargão político da época, referia-se a casas ou locais clandestinos utilizados por militantes de organizações de esquerda armada, para reuniões, abrigo, impressão de materiais, treinamento ou depósito de armamentos. O “estouro” desses locais, portanto, significa sua descoberta e invasão pelas forças de repressão.

O conteúdo do documento descreve diversas operações de repressão nas quais aparelhos foram localizados, invadidos e desmontados pelas forças militares ou policiais, muitas vezes após prisões e interrogatórios (frequentemente sob tortura). Em geral, os relatórios desse tipo incluem nomes de militantes presos ou mortos, endereços dos locais invadidos, materiais apreendidos (armas, documentos, mimeógrafos, etc.), e referências a ligações entre os envolvidos. Esses registros são valiosos para a reconstituição da lógica operativa da repressão e da atuação dos grupos de oposição armada, além de demonstrarem como a inteligência estatal mapeava e combatia os chamados “inimigos internos”.

A análise desse documento revela o grau de sistematicidade e controle com que o regime militar tratava a luta armada, documentando cada passo com finalidade interna (relatórios, fichamentos, cruzamento de dados). Também expõe a violência estrutural do regime contra opositores políticos, além de permitir perceber o modo clandestino e fragmentado de atuação dos militantes, que utilizavam vários endereços e identidades. Como fonte primária, o arquivo é fundamental para pesquisadores da história da ditadura, da repressão política e da resistência armada, e também serve como elemento de preservação da memória e denúncia dos métodos autoritários empregados pelo Estado contra seus cidadãos.