Historicamente o destino dos exilados paraguaios foram os países
lindeiros como Argentina e Brasil, sendo a Argentina o país de asilo de mais
da metade deste contingente. O Brasil foi o segundo país da região mais
buscado como destino. Ainda, outros países do Cone Sul, como Chile e
Uruguai, receberam cidadãos paraguaios na condição de refugiados. A lógica
limítrofe também foi empreendida dentro destes territórios nacionais,
configurando as cidades de fronteira não somente como um lugar de
passagem, mas também como o destino escolhido para projetarem seus
recomeços, enquanto aguardavam um possível retorno.
Estes espaços caracterizaram-se como um lugar de encontro e
resistência para mulheres e homens que, estando proibidos ou
impossibilitados de permanecerem no Paraguai, buscaram salvar-se da
violência e do autoritarismo imposto pelo Estado. Ao mesmo tempo,
mantinham-se geograficamente perto de seus compatriotas, possibilitando o
contato com familiares, amigos e correligionários que permaneciam do outro
lado. Esse “estar próximo” mantinha, ainda, a possibilidade de reagrupamento
das forças de maior ativismo que seguiam militando pelo desgaste e fim do
regime.
No Brasil, a cidade de Foz do Iguaçu, fronteira com Porto Presidente
Stroessner (atual Ciudad del Este) foi um dos redutos de exilados paraguaios
que atravessavam a fronteira. Essa rota foi traçada muitas vezes como
alternativa final de sobrevivência, visto que a Área de Segurança Nacional
reforçava a truculência das medidas de repressão e a travessia ao país vizinho
por si só se configurava em um grande risco. Nesse lugar, milhares2 de
2 Essa pesquisa não encontrou documentos que possam dar fundamento a uma afirmação
categórica sobre os números que representam essa migração especificamente. Porém, como
será explicado oportunamente, não realizamos uma diferenciação entre o exílio politico e
econômico, visto que trabalhamos com o entendimento de que ambos possuem uma relação
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paraguaios vivenciaram a experiência exilar das mais variadas formas,
passando pela clandestinidade até à militância em comitês de exilados,
associações, partidos políticos e movimentos que lutavam pelo fim da ditadura.
Um dos episódios que mais mobilizou exilados da região foram as Jornadas
de Solidariedade ao Povo Paraguaio, realizadas em duas edições, a primeira
em 1984 e a segunda em 1985. Estes eventos reuniram centenas de pessoas,
entre militantes, jornalistas, escritores e intelectuais de diversos países.
Participaram, ademais, paraguaios que estavam exilados em outras cidades
brasileiras como São Paulo e em várias cidades fronteiriças da Argentina. A
organização ficava a cargo do Comitê Latino-Americano de Foz do Iguaçu,
composto por representantes dos três países da Tríplice Fronteira. Os eventos
tinham como objetivo principal debater estratégias de luta contra a ditadura,
denunciando as violações cometidas pelo governo de Stroessner. Desta
forma, prestavam solidariedade aos exilados, presos e desaparecidos políticos
e suas famílias, criando um movimento que pedia a democratização do
Paraguai. Na própria mobilização operada para a criação dos eventos e na
realização dos mesmos, ficava plasmado o comprometimento dos exilados
com a denúncia da realidade vivida no seu país, ao mesmo tempo em que
integravam-se brasileiros, paraguaios e argentinos através de uma pauta
central de luta.
( De Manuela Sampaio em su a dissertação “MEMÓRIAS DO EXÍLIO NA FRONTEIRA:
TRAJETÓRIA E RESISTÊNCIA DE EXILADOS PARAGUAIOS EM FOZ DO IGUAÇU”
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