A PERIFERIA NA LUTA CONTRA A DITADURA
Pouco se fala sobre o histórico de resistência da periferia contra o regime ditatorial. Menos ainda do papel das mulheres da quebrada nas lutas sociais da época.
Mas foi dos encontros de bordado entre mulheres nas paróquias das periferias da Zona Sul de São Paulo que originou-se um dos maiores movimentos populares contra a ditadura no Brasil. Paralelamente aos movimentos sindicais, os Clubes de Mães, criados em 1972 dentro das comunidades eclesiais de base da igreja Católica, multiplicaram-se por toda a cidade quando passaram a reivindicar creches, luz, água encanada e a questionar a alta dos preços dos alimentos.
Seis anos depois, em 1978, sob o nome de Movimento Custo de Vida, o MCV, as autodenominadas “mães da periferia” levaram mais de 20 mil pessoas à Praça da Sé num ato público para protestar contra a política econômica do governo militar. E isso porque milhares de pessoas foram impedidas de chegar até a praça com controles, inclusive nas rodovias, para evitar a chegada de ônibus de diferentes cidades na manifestação.
A ousadia foi tanta que o movimento ainda fez um abaixo-assinado ao General Geisel, então presidente da época, com mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas. O documento reivindicava o congelamento dos preços dos gêneros de primeira necessidade, o aumento dos salários acima do aumento do custo de vida e um abono salarial de emergência imediato e sem desconto para todas as categorias de trabalhadores. Uma ousadia descomunal na época. Em Brasília, elas não foram recebidas pelo ditador e deixaram o material — enorme, com mais de 7 quilos de papel — na seção de protocolo do Congresso. Foram acusadas de terem falsificado as assinaturas, claro.
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Jornalistas Livres e Universa