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“O POVO DO ABISMO”: TRABALHADORES E O APARATO REPRESSIVO DURANTE A CONSTRUÇÃO DA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU (1974 – 1987)

Dissertação  de  Mestrado  apresentada  como  requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História, pelo Programa  de  Pós-Graduação  em  História,  Poder  e Práticas Sociais, da Universidade Estadual do Oeste do  Paraná

Valdir Sessi

 

 

Esta  dissertação  objetiva  estudar  a  organização  e  a  atuação  dos  aparelhos  repressores,  formados  pelas

Agências  de  Segurança  da  Itaipu  Binacional  e  pelo  Consórcio  UNICON,  durante  o  período  de  1974  a

Para  a  realização  desta    pesquisa,    foram  selecionadas    ocorrências  que    envolviam  os  trabalhadores   e   produzidas   pelas   secretarias   dessas   mesmas   agências,   além   de   narrativas   de

trabalhadores  e  guardas  de  segurança,  pertencentes  a  esses  aparelhos.  Neste  sentido,  o  estudo  inicia-se

com  a  discussão  acerca  da  origem  militar  dos  agentes,  bem  como  sobre  a  militarização  dos  corpos  de

segurança  de  cada  uma  delas.  Esta  discussão,  presente  no  primeiro  capítulo,  permitiu,  ao  longo  do

estudo,  aproximar  o  aparelhamento  militar  da   ditadura   vigente   à  atuação  das   referidas  agências.

Assim,  a  incidência  de  torturas  contra  os  trabalhadores,  no  Canteiro  de  Obras  e  nas  áreas  destinadas  à

moradia  dos  trabalhadores,  era  endossada  por  um  poder  mais  amplo  e  que  transcendia  o  próprio

Canteiro  de  Obras.  Neste  contexto,  percebe-se  que  a  formação  militarizada  ou  paramilitar  desses

agentes  deu  sentido  à  transformação  do  complexo  da  Itaipu  Binacional  em  uma  “Instituição  Total”.  O

mundo  policial  que  se  formou  em  torno  dessas  agências  ou  pequenas  Unidades  Militares  tinha  uma

finalidade,   isto   é,   para   além   da   manutenção   da   ordem,   criar   um   consenso   entre   a   massa   de

trabalhadores  de  que  eles  estavam  todo  o  tempo  sendo  vigiados  e  de  que  suas  ações  eram  passíveis  de

punições.  Se  havia  essas  características  militares  e  de  constante  vigilância  na  sociedade  externa  ao

Canteiro  de  Obras,  necessitava-se,  também,  de  trazer  para  a  usina,  em  termos  de  burocracia  e  práticas,

os  mesmos  procedimentos  adotados  pelos  aparelhos  policiais  regulares.  Assim,  as  referidas  Agências

de  Segurança  mantiveram  o  signo  da  tortura  e  da  repressão  contra  os  trabalhadores  comuns,  durante  o

tempo  que  durou  a  construção  da  barragem.  Os  recibos  de  pessoas,  comumente  trocados  entre  os

órgãos  policiais,  quando  da  entrega  e  recebimentos  de  indivíduos  presos,  foram  também  adotados

pelos  setores  militarizados  da  Itaipu.  Coroava-se,  desta  maneira,  um  complexo  esquema  repressivo

que  se  mantinha  ligado  às  demais  entidades  formadoras  da  base  das  Comunidades  de  Informações

cionais.  Se,  nos  primeiros  capítulos,  o  estudo  intensificou  a  análise  do  aparelhamento  policialesco

em  torno  do  Canteiro  de  Obras;  nos  momentos  seguintes,  sai  da  esfera  da  militarização.  Desta  outra

perspectiva  de  abordagem,  é  estudada  a  dinâmica  das  contratações  e  das  diversas  maneiras  que  os

candidatos   a   um   emprego   chegavam   ao   Centro   de   Recrutamento   das   empreiteiras.   Muitos

trabalhadores  tinham  uma  profissão,  e  por  isso  a  contratação  deles  era  facilitada.  Contudo,  havia

aqueles  que  se  aventuravam  sem  qualificação,  pois  eram  oriundos  de  outro  ramo  produtivo  que  estava

valdir_sessiem  decadência,  principalmente  o  da  agricultura

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