Os documentos em anexo demonstram o intenso controle e a repressão na região de Cachoeira de Macacu, localizada no Estado do Rio de |Janeiro em função dos conflitos fundiários que ali se desenvolveram. No pós golpe foram executadas expulsões de camponeses anteriormente reassentados na região.
De acordo com o Jornal Correio da Manhã de 11/10/1966, foram cerca de 2500 famílias despejadas pelo Ibra. Embora este possa ser um número superestimado, é possível perceber que a quantidade de pessoas expulsas não foi pequena. Os agricultores da região de Papucaia até hoje lembram dos temidos “General Saraiva” e “Tenente” Amauri Prado, da Guarda Rural do IBRA. Eles expulsavam de maneira violenta os posseiros que, de acordo com seus critérios, estavam em situação irregular. Incendiavam casas e lavouras
“Desde final dos anos 40 e início dos anos 50, a Baixada Fluminense (Cachoeira de Macucu e outros) e seus arredores foram áreas onde se acirraram os conflitos sociais.
Um dos principais estopins dos conflitos que então se davam eram os
despejos de lavradores das áreas por eles ocupadas. Confrontavam-se, de um lado, asforças policiais, que apoiavam jagunços, fazendeiros e grileiros. De outro lado,
pequenos lavradores, principalmente “posseiros” e “parceiros”, apoiados por militantes
comunistas (Grynszpan: 1987). Eram constantes as denúncias sobre violência, com
algumas marcas características que se repetiriam nos 60 e 70: plantações destruídas,
casas queimadas e atuação de jagunços. Respaldados ou não por ordens judiciais, os
despejos e expulsões de lavradores ocorreram em diversos municípios”.
“Se, à primeira vista, a luta social teria surgido de diferenças entre interesses de lavradores e fazendeiros, por outro lado, não se pode resumi-la a uma disputa de terras entre camponeses e proprietários ou grileiros, ainda que esse seja o centro do problema. O conflito deu-se em torno de questões bem mais complexas: de um lado, os “posseiros” apoiados por militantes e instâncias do PCB, que se envolveram em diversos casos e organizações; de outro, os fazendeiros, “grileiros” circundados por jagunços, pelo aparelho do Estado, autoridades locais e militares”.
Com o golpe militar o “sindicalismo rural que se formou com o apoio do governo Goulart, não foi poupado pela repressão. Os dirigentes da CONTAG foram presos e torturados, os
sindicalistas da base dispersados e suas lutas reprimidas. O quadro de violência e
repressão abrangia todo o país”. “De Pernambuco, passando por Minas, até o Rio Grande
do Sul, destaca o autor, diversos casos de brutalidades e torturas foram registrados.
No Estado do Rio de Janeiro, o período foi marcado por uma intensa intervenção
nos organismos sindicais e repressão direta aos focos de conflito por terra. Os diretores
da FETAG estavam desaparecidos e eram procurados pela polícia. Outros foram presos
. Além disso, foram fechados os sindicatos e associações que ainda não
haviam obtido a carta sindical”. “Era bastante forte a ligação dos lavradores em relação às suas lideranças, a repressão contra estes movidas pelos governos militares teve um efeito desmobilizador. Esse efeito deve também ser creditado, ao fato de que, nesse novo contexto, para além das investidas policiais, os lavradores e sindicatos se tornaram mais ulneráveis às ações de grileiros e jagunços”.
ENTRE ASPAS, TRECHOS DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AÇÃO SINDICAL E LUTA POR TERRA NO RIO DE JANEIRO
FERNANDO HENRIQUE GUIMARÃES BARCELOS
DOCUMENTOS DO ACERVO DO PESQUISADOR ALBERTO SANTOS