Carta de Eliana Paiva, pedindo ajuda aos deputados federais para localizar o seu pai, preso e vítima de desaparecimento forçado.
Feriado no Rio, dia ensolarado aquele 20 de janeiro de 1971. Rubens Paiva viu a filha Eliana, de 15 anos, descer as escadas do sobrado à beira-mar, no número 80 da Delfim Moreira, no Leblon, enquanto conversava com o amigo Raul Riff. Pediu à filha um beijo.
Eliana viveria o próprio horror. Quando voltou da praia, a casa já havia sido invadida, e o pai estava preso. Foi ameaçada por um militar com um cabo elétrico. No dia seguinte, foi levada presa, encapuzada, junto com sua mãe, para o DOI-Codi.
Eliana Paiva passou décadas sem contar nada a respeito dos dias em que passou presa, quando tinha apenas 15 anos. “Acho que esqueci o que aconteceu, deixei pra lá, sabe?”, diz ela.
Era janeiro de 1971 e seu pai, Rubens Paiva, deputado cassado, tinha sido preso no dia anterior. Era um engenheiro civil da classe média paulistana, socialista, jovem, empreendedor e bon vivant. Mas uma carta e uma amizade foram suficientes para ser considerado suspeito, preso e espancado até a morte.
Filha e pai não se encontraram na prisão. Aliás, nunca mais se viram. Provavelmente, ele morreu naquele mesmo dia em que ela foi presa, vítima de torturas. Foi dado como desaparecido e seus restos mortais nunca foram encontrados. “Só recentemente é que comecei a contar algumas coisas que eu não comentava nem para a minha família”, diz ela. “Ninguém soube da minha prisão, foi um segredo que guardei por 40 anos e que só revelei na Comissão da Verdade”.
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