Eu conheci Mário Oba na ala dos presos políticos do Presídio do Ahú, em Curitiba. Japonês boa praça, tranquilo.
Foi no tatame de Mário Oba que eu dei meus primeiros passos, e os últimos também, no Karatê. Era sempre à tarde, quando ele estendia o tapete no chão e a gente se estatelava e se esbodegava com os golpes do japonês.
Ele foi preso, quando caiu o congresso clandestino da UNE, que os estudantes realizaram no Boqueirão, na época zona rural de Curitiba.
Mário Japa, eu conheci no Chile. Ele havia chegado de Cuba para coordenar alguma missão da VPR. Gente boa pra caramba. Quem diria que aquele cara sorridente, de gestos amáveis, era o famoso Chizuo Osawa, guerrilheiro da Vanguarda Revolucionária Popular.
Pois bem, em 2013 eu me reencontrei com o japonês de Curitiba. Foi em Brasília, numa das inúmeras reuniões do CASC – Comitê de Acompanhamento da Sociedade Civil na Comissão de Anistia. O salão estava cheio, quando o japonês entrou e uma das assessoras de Paulo Abrão apontou pra mim. Fiquei curioso, sem saber quem era a pessoa, que por sua vez me fitava com seus olhinhos orientais.
No intervalo da reunião, ele se aproximou de mim, disse seu nome e me abraçou chorando. Quarenta e quatro anos depois que eu fui tirado do Ahú e levado para o centro de torturas da Base Naval da Ilha das Flores, mo Rio, eu me reencontrei com Mario Oba. Saímos da reunião e conversamos sobre nossas famílias, dos filhos e dos netos. Ao se despedir, ele tirou um recorte de jornal de uma pasta de couro que carregava embaixo do braço e me contou suas desventuras nos primeiros anos após ter saído da prisão.
No final de 1970, a caminho da UFPR, ele estava concluindo o curso de Engenharia Elétrica, ele foi preso e levado para uma unidade do Exército. Durante três dias foi submetido a tortura. Queriam que ele confessasse que era o japonês da VPR e havia retornado clandestinamente de Cuba.
Um ano depois, a história se repetiu. Dessa vez em São Paulo. Ao sair do trabalho, agora engenheiro formado, Mario Oba foi preso e novamente torturado. A repressão queria contatos na VPR.
Ele negava esse negócio de VPR e de Cuba, dizia que era um estudante do Paraná e que sua vida era trabalhar e nada mais.
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