Chefe de quadrilha que explorava prostituição de menores em Foz do Iguaçu recebeu Diploma de Colaborador Emérito do Exército
Quem não conhecia seu verdadeiro caráter e atividades ilícitas, imaginava estar diante de um perfeito cavalheiro, um dândi.
Suas vestes estavam sempre impecáveis, bem talhadas. O perfume era uma de suas armas; de aparência “limpinha”, circulava cheiroso, derramando charme de canastrão nos rega-bofes do Country Clube e nos happy hours e bailes das boates dos hotéis Carimã e Internacional. Na base do xaveco, da enrolação, dos falsos elogios e da mentira circulava com desenvoltura nos meios sociais.
Era íntimo do general Costa Cavalcanti; do coronel Odemir Castro, comandante do Batalhão e do prefeito coronel Clóvis Cunha Vianna.
Suas credenciais de representante do “generalíssimo” presidente do Paraguai e de homem de muita influência na Itaipu, abriam para ele as portas dos melhores endereços da cidade.
Durante quase dez anos Guillermo Antonio Rolón nadou de braçada na provinciana Foz do Iguaçu do final da década de 70 e início da década 80.
Com total desenvoltura freqüentava o Batalhão e a Prefeitura, como se fossem sua casa, e nos desfiles da Independência e Aniversário do Município, para ele era reservado o lugar de honra no Palanque Oficial. Com seu impecável terno de linho, feito sob medida por Sady Confecções, o espertalhão Guillermo Rolón se postava ao lado do coronel prefeito e do comandante do Batalhão e suas respectivas esposas.
Em 1989, uma caravana composta por políticos, empresários e militares acompanhou Rolón à Brasília, onde ele recebeu com pompa e circunstância o Diploma de Colaborador Emérito do Exército Brasileiro. A solenidade aconteceu no salão nobre do Estado Maior das Forças Armadas e o galardão foi entregue pelo general Waldir Martins.
Na época, nós até que desconfiávamos que o cara não era flor que se cheire, e já nas primeiras edições do jornal Nosso Tempo, eu, Juvêncio e Adelino dávamos umas caneladas no sujeito.
Porém, longe da gente imaginar que o “queridinho” das autoridades e das madames, fosse um canalha com tantas canalhices.
Eu só descobri o que acontecia “debaixo dos panos”, quando vinte anos depois, tive acesso em abril de 2002, ao arquivo da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu.
Abrindo caixas e revirando milhares de documentos em busca de pistas que me levassem aos desaparecidos políticos, eu me deparei com um informe confidencial redigido em setembro de 1989.
O documento reporta ao início de investigações sobre tráfico de menores e lenocínio na fronteira. A bomba caiu no colo do delegado da Polícia Federal quando Amálio Sotto, chefe de Polícia do Paraguai, atravessou a fronteira e confidenciou ao delegado da PF, que a esposa de dom Bernardino Caballero, governador do Departamento do Alto Paraná, estava ameaçando “botar a boca no trombone”, se a polícia não tomasse providência para acabar com a prostituição de luxo e bacanais que aconteciam nos hotéis de Foz do Iguaçu.
Segundo ela, seu marido freqüentava as festinhas, e que menores eram recrutadas por Gullermo Rolón, para satisfazer as autoridades e empresários de Foz do Iguaçu e do Paraguai.
Ainda em sua denúncia, a esposa do governador afirmou que Rolón estava chantageando seu marido, para que ele facilitasse o contrabando de uísque e o tráfico de entorpecentes.
O delegado destacou então um agente para levantar o caso. O relatório desse agente é de deixar os cabelos em pé. Guillermo Rolón era o chefe de uma ampla rede de prostituição de menores, na qual estavam envolvidos, além do governador paraguaio, o delegado de polícia de Foz do Iguaçu, o comandante do Batalhão, os donos dos hotéis Carimã e Internacional, além de empresários da fronteira.
As investigações estavam em andamento, quando, para surpresa do delegado da PF, Guillermo Rolón, foi agraciado com o Diploma de Colaborador Emérito do Exército.
Diante desse fato, e com tanta gente importante envolvida no escândalo, o delegado da Polícia Federal, engavetou o caso.
Mas como geralmente “o diabo faz a panela mas não faz a tampa”, eu encontrei, durante minhas pesquisas, o informe policial entre milhares de documentos.
Hoje, o original desse documento deve estar na Coordenadoria Regional do Arquivo Nacional, em Brasília.
Fontes:
Apreciação 002/89 – SI/DPF.1/FI/PR 06.09.89
Capa do jornal Gazeta do Iguaçu. Na foto, da esquerda para a direita, Antônio Cirilo, Guillermo Rolón, Ermínio Gatti e Xenofonte Villanova
Pagina 7, da edição 18 do jornal Nosso Tempo, onde Guillermo.Rolón aparece de terno branco na inauguração de agência do Banestado, no Paraguai.
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