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Documento do MJ, emitido em 1982, revela que ditadura militar monitorou, até seus últimos dias, partidos e entidades

O documento intitulado Informação n° 313/03/82, emitido pela Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça (DSI/MJ) em 29 de outubro de 1982, revela preocupações do regime militar brasileiro quanto à suposta infiltração comunista em diversos setores da sociedade. Produzido no contexto da ditadura civil-militar, e circulado entre órgãos de informação como o Serviço Nacional de Informações (SNI), o texto reflete a lógica de vigilância e repressão política típica daquele período.

Desde a introdução, o documento afirma que a infiltração de organizações subversivas — sobretudo de orientação marxista-leninista — estaria se intensificando em áreas estratégicas como a política institucional, os movimentos sociais, o meio religioso, os sindicatos, a educação, a imprensa e os poderes constituídos. A DSI aponta que militantes estariam se aglutinando em partidos legalizados, especialmente o PMDB, com o objetivo de disputar cargos eletivos nas eleições de novembro de 1982, utilizando essas estruturas legais para promover suas ideias contrárias ao regime.

No campo sindical e associativo, o relatório menciona entidades como a CONFAM (Confederação Nacional das Associações de Moradores), sindicatos de bancários e diversas federações de mulheres como espaços de suposta infiltração comunista. Nomes de militantes e lideranças políticas vinculados ao PC do B, MR-8, PCB e APML são listados, acompanhados de eventos e congressos em que se discutiram pautas sociais, como o II Congresso de Entidades de Moradores em Fortaleza.

O documento também dedica atenção especial à Igreja Católica, acusando padres e bispos progressistas de disseminarem ideias marxistas e incentivarem a luta de classes. Cita como exemplo as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), boletins diocesanos com críticas ao golpe de 1964, e ações de religiosos ligados à defesa de direitos dos povos indígenas, como os missionários cambonianos. O Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), vinculado à Companhia de Jesus, também é mencionado como foco de articulação entre religiosos e movimentos sociais de esquerda.

Nos meios de comunicação, o documento afirma haver infiltração de “elementos esquerdistas” que atuariam para desmoralizar o governo e difundir ideias contestatórias ao regime. No setor educacional, há menção a eventos estudantis — como congressos e encontros universitários — que, segundo o relatório, promovem críticas ao regime militar e defendem pautas como ensino público gratuito, reforma agrária e eleições livres. Também são citados professores universitários e lideranças estudantis identificadas como militantes de partidos de esquerda, especialmente em instituições como a UFPR, UFBA, PUC-RJ e UFMG.

Além disso, o documento dedica-se a mapear possíveis infiltrações nos poderes Executivo e Legislativo, com listas extensas de candidatos associados ao MR-8, PC do B, PCB, OSI, CS e outras organizações. A maioria dos nomes está vinculada ao PMDB, partido que à época agregava grande parte da oposição legalizada. O relatório condena a presença dessas candidaturas como estratégias de infiltração institucional da esquerda, mencionando inclusive falas públicas de candidatos que não exigiriam “atestado ideológico” para compor seus governos.

Em síntese, o documento representa uma peça típica do aparato repressivo da ditadura militar, caracterizada pela perseguição ideológica e pelo controle político de opositores. Ao classificar manifestações democráticas como subversão, o regime buscava justificar a repressão contra movimentos sociais, setores progressistas da Igreja, organizações estudantis e partidos da oposição.

 

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