O documento intitulado “I Encontro Nacional de Músicos”, datado de 4 de dezembro de 1980, foi produzido pela Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência da ditadura militar brasileira. Classificado como “confidencial”, o relatório descreve com minúcia a realização do evento promovido pelo Centro Brasil Democrático (CEBRADE), visto pelo regime como parte de um esforço de “infiltração nos meios de divulgação de ideias promovido pelas esquerdas”. O encontro tinha como objetivo principal debater a organização da classe musical brasileira, seus direitos, lutas e os desafios enfrentados pelos músicos no contexto profissional e político da época.
O evento contou com a presença de importantes nomes da música brasileira como Chico Buarque de Hollanda, Roberto Menescal, Aldir Blanc, Tarik de Souza, Guerra Peixe, entre outros. A coordenação geral ficou a cargo de Marcus Vinicius França, com apoio de entidades como a Ordem dos Músicos e sindicatos estaduais. Foram debatidos temas como a relação entre músicos e meios de comunicação, o papel das gravadoras, censura, direitos autorais, fonomecânicos e conexos, bem como a importância da formação musical e da organização sindical, contando também com a a presença de Luiz Inácio da Silva, que na época destacava-se por sua atuação como líder sindical. O evento foi realizado no auditório do Colégio Bennett, em Botafogo (RJ), e contou com financiamento de empresas como Souza Cruz e VARIG.
A vigilância do SNI sobre o encontro revela a contínua preocupação do regime militar com qualquer articulação social ou cultural que pudesse representar uma ameaça à sua hegemonia ideológica. Mesmo em um contexto de abertura política gradual no início dos anos 1980, manifestações artísticas e encontros de classe eram monitorados e interpretados como movimentos potencialmente subversivos. O documento, portanto, é um testemunho valioso da intersecção entre cultura, política e repressão durante a ditadura, ao mesmo tempo em que registra o fortalecimento das lutas por direitos e organização dentro do campo artístico, sinalizando as transformações que levariam à redemocratização do país.
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