Participação na luta contra a Ditadura Militar
PARTICIPAÇAO NA LUTA CONTRA A DITADURA
Ingressei na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná um ano após o golpe militar de 31 de abril de 1964. Os estudantes de direito já haviam rejeitado a imposição para que o seu Centro Acadêmico Hugo Simas deixasse de existir e passasse a se denominar diretório estudantil, vinculado à estrutura governamental. Vinha de um berço familiar onde a participação na vida política era uma constante. Desde o ano de 1951 acompanhávamos a participação de nosso pai no antigo PTB como candidato e depois como vereador na cidade de Campo Mourão.
O Centro Acadêmico Hugo Simas era um baluarte em defesa da democracia entre todos os estudantes. Pois o estudo da matéria do curso – o direito – já era em si um estopim para a luta contra a ditadura militar. Mas tinha por outro lado a situação econômica de dependência externa do país, a gritante desigualdade social e os interesses específicos dos estudantes em geral.
À época, Curitiba como as demais grandes capitais, era o único local onde existiam com qualidade o nível médio e universitário. Para cá se dirigiam estudantes do interior do estado do Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso principalmente. Curitiba poderia ser definida com a Rua XV Novembro cercada de pensões, repúblicas e restaurantes universitários por todos os lados. Essa massa estudantil vivia agrupada no centro da cidade e tinha como objetivo a sua formação universitária. Viviam em grupos homogêneos e a principal atividade de lazer eram os bailes universitários e os cinemas.
Toda nova geração traz uma nova visão sobre o mundo, cria sua nova maneira de se expressar e se vestir. Acrescente-se a isso que os estudantes, em sua maioria do interior, tinham interesse em que a alimentação fornecida pelos diretórios acadêmicos, pela União Paranaense dos Estudantes, pelo Direito Central dos Estudantes e pela Casa dos Estudantes fosse de qualidade e barata. O ensino nas Universidades era gratuito.
A Ditadura Militar vem em direção oposta a essas aspirações. A proibição da União Nacional dos Estudantes – UNE, a proibição de partidos políticos, a proibição de manifestações públicas, a censura e o clima de perseguição política contrariam os anseios de liberdade. O Ministério da Educação e Cultura estabeleceu – MEC – estabeleceu um acordo com a USAID para fins de reforma universitária que previa a introdução do ensino pago. O confronto foi inevitável.
Um dos eventos mais importantes desse confronto foi a ocupação da Reitoria da UFPR no mês de maio de 1968. A introdução do ensino pago nas universidades brasileiras far-se-ia pelo Estado do Paraná. Como a cobrança começaria pelo primeiro ano voltamos a nossa organização para os cursinhos e vestibulandos. No início do ano fizemos com que mais de 90% dos estudantes solicitassem a gratuidade. Com o impasse ocupamos a Reitoria e saímos vitoriosos. Até hoje o ensino nas universidades federais é gratuito.
Participei de três Congressos Clandestinos da União Nacional dos Estudantes.Em Belo Horizonte, em 1966; em Valinhos, Estado de São Paulo, em 1967 e Ibiúna, Estado de São Paulo em 1968. Neste último congresso todos os estudantes foram presos e levados ao Presídio Tiradentes.
Em outubro de 1967 fui eleito Presidente do Centro Acadêmico Hugo Simas e em outubro de 1968 fui eleito Presidente do Diretório Central dos Estudantes.
Em 17 de Dezembro de 1968 na tentativa de organizamos o Congresso Regional da UNE em Curitiba fomos presos em número de 42 estudantes. Respondemos na Justiça Militar processo em Curitiba pela participação no Congresso Regional da UNE eem São Paulopela participação no XXX Congresso Nacional da UNE. Respondemos ainda um processo pela organização de manifestação de protesto contra a morte do estudante Edson Luis. No total cumpri 2 anos e 10 de meses de prisão no Presídio do Ahu a maior parte e no Presídio Tiradentes em São Paulo.
Posto em “liberdade” não tinha emprego, não concediam atestado de boa conduta e tive que seguir para o Chile. Lá participei do Comitê de Denúncia de Repressão – CDR. Após o golpe fascista do General Augusto Pinochet fui prisioneiro no Estádio Nacional por 45 dias. Expulso e vivendo na França e Suíça participei na organização dos Comitês de Anistia em Paris, Lausanne e Genebra. Em 31 de agosto de 1979 retornei ao país e me integrei na construção do Partido dos Trabalhadores -PT.
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