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SARGENTO ALBERI, O CABO ANSELMO DO SUL

A primeira vez que eu ouvi falar que Alberi Vieira dos Santos, ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, havia mudado de lado, foi numa conversa com o advogado Antonio Vanderli Moreira, aí pelo final de 1979.

Eu recém havia chegado em Foz

do Iguaçu, depois de oito anos de exílio e clandestinidade. Antônio era o presidente do diretório local do MDB e tinha sido líder estudantil em Porto Alegre.

Comentei pro Antônio que eu andava atrás de notícias de um grupo de companheiros, que havia entrado clandestinamente no Brasil em 1974 , para retomar as ações guerrilheiras e estava desaparecido. Contei a ele que eu havia sido convidado pra vir junto e quem me convidou foi o ex-sargento Alberi.

Foi então que Vanderli Moreira me disse que Alberi ia sempre em seu escritório, mas que, depois de ter sido visto entrando no 34ª BFront,  ele deu uma gelada no cara. Mais tarde eu soube, que as idas frequentes de Alberi à unidade militar de Foz do Iguaçu e à Delegacia de Policia, era por conta de sua busca aos assassinos de seu irmão José, que foi assassinado em 1976 com requintes de crueldade. Alberi cobrava resultado.

Ao mesmo tempo que procurou o GTNM do Rio, para dizer que seu irmão havia sido vítima de crime político, pediu ajuda até ao coronel Paulo Malhães, do qual ele foi colaborador em 1973 e 1974.

Em janeiro de 1979, o ex-sargento Alberi apareceu morto nas proximidades da cidade de Medianeira, região Oeste do Paraná.

No documento intitulado “Auto de Achada de Cadáver”, o delegado de polícia de Medianeira declarou ” Aos onze dias no més de fevereiro de mil novecentos e setenta e nove, nesta cidade de Medianeira, na estrada que liga a sede do Município ao distrito de Missal, estando comigo o escrivão da Delegacia, foi encontrado um cadáver na altura do quilômetro 4, à menos de um metro da pista de rolamento.

O cadáver se encontra em decúbito vental, sendo do sexo masculino , branco, cabelos lisos, nariz reto, de bigode e com barba raspada, tendo as mãos finas e unhas bem feitas…. Estava bastante sujo de barro e sangue… Em seus bolsos foram encontradas cápsulas marca RP Cal .45, de fabricação estrangeira. Ao seu lado uma cápsula detonada marca RP, calibre 9mm. O corpo apresentava quatro perfurações de projetes de arma de fogo …”

Esse foi o fim do líder da rebelião conhecida por Operação Três Passos, que a partir de 1973, passou a fazer parte do grupo operacional do coronel Paulo Malhães, o facínora do Centro de Informações do Exército. Sua primeira missão foi a de se infiltrar entre os asilados no Chile e tentar trazê-los para o Brasil, com promessas de apoio logístico e bases camponesas. O golpe comandado pelo general Augusto Pinochet abortou a missão de Alberi em Santiago

Mas ele, escolado e esperto, entrou na Embaixada do México e algum tempo aparece em Buenos Aires todo serelepe recrutando para a sua base guerrilheira no Paraná. Fez inúmeros contatos. O plano era trazer um grande número de militantes da VPR e de outras organizações da luta armada. Conseguiu recrutar os mais ansiosos em continuar os embates com a ditadura, mediante a promessa de bases camponesas e infraestrutura segura. Alberi era uma pessoa conhecida entra a velha militância, quase um mito. Foi líder da primeira ação armada contra a ditadura.

E assim foi que ele arrastou seis militantes para a morte. Onofre Pinto, Daniel e Joel de Carvalho, Victor Ramos, José Lavéchia e Enrique Ruggia, caíram na emboscada preparada pelo coronel Paulo Malhães

A Operação Juriti, é semelhante a armadilha montada pelo delegado Sergio Fleury, na qual foram presos e torturados até a morte seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária. Em Pernambuco o infiltrado foi o cabo Anselmo, no Paraná, foi o ex-sargento Alberi. Ambos ex-militares e militantes da luta armada contra a ditadura.

A diferença reside no fim dos dois traidores. Anselmo, anda se arrastando por aí, abandonado pelos seus parceiros da repressão.

Alberi após seu ato infame, virou bandido, jagunço expulsando posseiros. Sua morte é um mistério. Alguns dizem que foi queima de arquivo. Ele andava transtornado com a morte do irmão e o CIE não podia deixar pista. A ordem era não apagar as pistas.

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