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EU ESTIVE NO INFERNO DURANTE 22 DIAS”. RELATO COMOVENTE DE UMA MÃE DE PRESOS POLÍTICOS

 “De madrugada no outro dia, bateram à minha na porta . Eram soldados com metralhadoras, invadiram a casa, mexeram em tudo e me levaram para o Dops de Niterói. Meu cachorro ficou preso dentro de casa, escondido debaixo da mesa como se soubesse o perigo de aparecer. Um homem me levou para o Rio.  Estive no inferno por 22 dias.

                                      (…)

Fiquei em cima de una sala ele tortura ou coisa parecida, eu ouvia barulho ele todo jeito, pareciam cabeças batendo nas paredes. A luz da cela ficava sempre acesa. Era sinal que de madrugada vinham buscar uma. Sempre que levavam uma mocinha. Eu ficava chorando, quando elas voltavam e me contavam que foram torturadas com choques, etc.

                                      (…)

Vi um dia minha nora no corredor.  Ela parecia um monstro, o rosto inchado, cheio de hematomas. Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas.”

Foto 1 Inazinha, ex-presa política. Filha de Inah Meirelles de Souza

Foto 2 Colombo e Jessi Jane na prisão

Foto 3 Inah Meirelles de Souza, com ex-presos políticos por ocasião de seu 80º aniversário

 Trechos de documento escrito por Inah Meirelles de Souza, em 1º de novembro de 1978.

Hoje, dona Inah está com 92 anos.

 Trechos de documento escrito por Inah Meirelles de Souza, em 1º de novembro de 1978.

No dia 2 de julho de 1970, agentes da ditadura invadiram a casa de “dona” Inah e a levaram presa. Um ano antes foi presa sua filha Iná e seu então genro Marcos Medeiros. A casa da Rua Doutor Sardinha, 22, no bairro do Fonseca, em Niterói, foi invadida e dona foi presa após a prisão de seu filho Colombo, de sua nora Jessie Jane e do amigo da família Fernando Palha Freire. Eiraldo, o irmão de Fernando foi assassinado pela repressão no ato da prisão.

Na carta, “dona” Inah faz relato das visitas que fazia aos presos políticos nos presídios da Ilha das Flores e da Ilha Grande, ambos situados no Rio de Janeiro.

“Inah Meirelles de Souza nasceu na cidade de Conquista, no triângulo mineiro, em dezembro de 1923. Na adolescência, veio com sua família para Marechal Hermes, subúrbio do Rio, onde ficou até se casar, em 1945, com um jovem aviador com quem teve dois filhos (Iná e Colombo).

Em 1955, um trágico acidente interrompeu a felicidade do casal e Inah ficou viúva. Em 1969, soube que sua filha, Iná Meireles de Souza, e seu então genro, Marco Antonio Medeiros, haviam sido presos no Paraná e que se encontravam sendo torturados na Ilha das Flores, à época base de um centro de torturas da Marinha. Esta noticia transformou sua vida que a partir daquele momento passou a girar em torno das prisões.

Em 1970, seu filho Colombo e sua companheira Jessie Jane foram presos juntamente com dois outros jovens, Fernando Palha Freire e Eiraldo Palha Freire. Na manhã seguinte, sua casa foi invadida por agentes da repressão que a levaram presa para o DOI-CODI e, posteriormente, para o CISA. Foram trinta dias de terror. Ali Inah assistiu seu filho ser torturado e conviveu com dezenas de mulheres que também estavam sendo interrogadas e torturadas.” (Texto do GTNM, do Rio de Janeiro)

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4 comentários

  1. Vagner moraes diz:

    Pq os agentes entraram na casa dela?
    Não entendi

  2. nossa que historia , não sou desse tempo mais imagino como deve ter sido horrível

  3. Manuel Aires de Moura diz:

    Perseguido político. Fui preso em Olinda/PE pelo DOPS, sendo submetido a interrogatórios intermináveis, sendo acareado com presos que nunca mais foram vistos. Algumas pessoas amigas, colegas de trabalho na época, forma assassinadas, entre outras Mirian Verbena, e Ranúzia Rodrigues. Depois de ter meu nome incluido na lista negra do DOI-CODI/SNI, seguio meus passos até 1988. Hoje aguardo a decisão, pela Comissão Nacional da Anistia, da minha condição de anistiado, e a consequente reparação pelos danos morais e profissionais sofridos ao longo do tempo. Ditadura jamais!!!

  4. Manuel Aires de Moura diz:

    Fui preso por agentes da repressão do regime militar (DOPS) em 29/03/1970, tendo permanecido sob interrogatórios intermináveis e repetidos, com agressões físicas e psicológicas sistemáticas. Não conseguiram descobrir minha ligação com o PCBR, mas mesmo assim time meu nome incluido na lista negra do DOI-COD/SNI até 1988. Conheci de perto Mirian Verbena (socióloga) assassinada em Pernambuco, juntamente com seu marido, bem como Ranúzia Rodrigues (enfermeira) assassinada no Rio de Janeiro. Espero ter minha condição de perseguido político, com a devida reparação pela Comissão Nacional da Anistia, pelos males morais e profissionais sofridos, e causados pelo regime militar de triste lembrança. É lamentável que a juventude, atual, tenha uma visão deformada, e negligenciada no processo educativo. Ditadura jamais!!!

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